Argentinos celebram centenário de Vinicius

Centro Cultural Recoleta faz mostra com imagens do poeta brasileiro

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Por Alida Julianni Sánchez e BUENOS AIRES
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Intimamente ligada à sua obra, Buenos Aires comemora desde o dia 21 o centenário do nascimento de Vinicius de Moraes (1913-1980), com uma exposição multimídia que resgata a alma e a sensibilidade do artista genial.O espírito deste poeta, dramaturgo, roteirista, crítico, diplomata e jornalista revive na sala Cronopios do Centro Cultural Recoleta da capital argentina, cujas paredes estão recobertas por uma coleção de fotografias e textos do autor da letra da famosa Garota de Ipanema.Parte das 90 imagens que constituem a exposição gráfica foram doadas pela viúva, a argentina Marta Rodríguez Santamaria, que idealizou o projeto, surgido como uma "ideia simples" e que acabou crescendo e tornando-se "uma espécie de terapia, um processo espiritual" para ela."Eu era muito jovem quando conheci Vinicius, tinha 22 anos, e conhecê-lo espiritualmente foi uma experiência muito forte, produziu um impacto muito grande em mim, mudou a minha maneira de ver a vida. Muitas coisas que talvez tenham ficado sem concluir; e agora tive a oportunidade de retomá-las", disse Marta à Efe.Durante mais de dois anos, a viúva do compositor trabalhou com a artista plástica Renata Schussheim, grande amiga dele, para transmitir na mostra Vinicius... Saravá! A vida, amigo, é a arte do encontro", um legado que elas consideram "necessário para as pessoas". "O legado que está aí e que é preciso saber entender. A exposição é como retomar Vinicius de uma forma espiritual, porque ele não está presente fisicamente, mas seu espírito está dando voltas por aqui", afirma.Cor e PB. A presença do compositor pode ser sentida através das imagens, algumas em branco e preto, outras coloridas, de tamanho pequeno, médio e de grande formato, parte de uma coleção pessoal, tomadas durante diversas viagens, em situações familiares e com amigos.Outro segmento gráfico tem como autor o fotógrafo Gianni Mestichelli, que o retratou em suas estadias em Buenos Aires, na lendária gravação do disco La Fusa, com Toquinho e Maria Creuza, em apresentações do espetáculo ao lado de Dorival Caymmi, Baden Powell e o Quarteto em Cy ou em reuniões com Astor Piazzolla."Ele (Vinicius) rompeu a barreira entre o popular e o erudito. Podia ser amigo de qualquer pessoa e também de Orson Welles. Nunca o perdoaram por ter deixado a poesia elitista para fazer canções, e isto também foi revolucionário", explica.Numa parede da sala, a projeção de uma praia vazia e o ruído do mar refletem "esta sensação de bem-estar tão necessária neste momento em que o mundo todo é violento", destaca Schussheim, para quem a exposição representa "uma viagem pela cabeça e pela sensibilidade de Vinicius"."Não quisemos fazer uma homenagem, mas um festejo, algo descontraído, caloroso, com o espírito com que ele viveu na Argentina, com seus amigos", destaca a artista plástica, reconhecendo que, inconscientemente, a mostra, que permanecerá aberta ao público durante três semanas, é também "uma espécie de homenagem ao amor" do casal.A música de Vinicius, autor de cerca de 400 canções, está também presente na exposição, "e envolve com sua magia os visitantes durante todo o percurso", entre livros e cartas do poeta."O centenário não é um número qualquer, é especial porque é como uma volta à própria origem. E tampouco é casual que esta mostra se realize em Buenos Aires, uma cidade ávida de cultura, que foi tão importante para ele", afirma a argentina Marta. "Depois do Brasil, esta é seguramente a homenagem maior que farão a Vinicius, em termos de tempo e conteúdo", conclui. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

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