Argentino Julio le Parc ganha mostras quase simultâneas no Rio e em São Paulo

Trabalhos do artista não eram vistos no País há 12 anos

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Por Redação
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Nesta semana é a vez de São Paulo. A Galeria Nara Roesler inaugura a mostra Uma Busca Contínua. A seleção, à cargo da curadora Estrellita B. Brodsky, procura mostrar como se dá a transição feita por Le Parc das obras bidimensionais para trabalhos em que explora com habilidade os efeitos da luz, da cor e do movimento no espaço. A seleção procura enfatizar o que a pesquisadora define como caráter “ambivalente, instável, não absoluto de sua produção”.

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Na semana que vem, será a vez do Rio de Janeiro, com a inauguração da exposição Le Parc Lumière – Obras cinéticas de Julio le Parc. Trata-se de uma seleção de 30 trabalhos do artista construídos a partir de experiências com a luz que ocupará a nova sede da Casa Daros até fevereiro de 2014. A mostra será acompanhada de uma série de atividades paralelas, incluindo o lançamento de um alentado catálogo. As peças pertencem à coleção suíça e foram especialmente reunidas e restauradas para uma primeira mostra realizada em Zurich em 2005, pelos curadores Hans-Michael Herzog e Käthe Walser. O artista, que acaba de completar 85 anos, veio especialmente ao País acompanhar os trabalhos de montagem e participar de encontros com o público nas duas cidades.

Apesar do caráter multifacetado e da índole experimental de Le Parc, há em sua produção uma coerência e uma ênfase clara em algumas questões centrais: o rigor na pesquisa de construção da imagem, baseada em esquemas claros desenvolvidos a partir de trabalhos precursores como os de Mondrian e Vasarély, e a defesa da possibilidade transformadora da arte. O caráter dissimulado, restrito e elitista da arte sempre o incomodou. Em vez de aceitar os paradigmas em vigor no mercado internacional, buscou trilhar seu caminho em busca de um trabalho capaz de se comunicar mais diretamente com o público. “O espectador é deixado de lado. Mesmo atualmente, sua opinião não tem a menor importância; o que prevalece é a crítica, o mercado. O dinheiro decide”, lamenta.

A exposição em São Paulo remonta aos anos 1958 e 1959, com Le Parc recém-chegado a Paris, e traz uma série de estudos, combinações simples de formas e cores, em que predomina o caráter ainda projetual do que viria a se tornar um dos paradigmas da arte cinética. O artista vê-se então encantado com a possibilidade única de passar 24 horas do dia pensando, experimentando, fugindo dos esquemas reducionistas e excludentes do período. Segundo ele, o interesse não era tanto a geométrica, mas a busca de como provocar uma instabilidade visual. A luz, uma de suas ferramentas mais poderosas, é rapidamente incorporada aos trabalhos, a partir de 1960, e continua acompanhando-o até hoje, como será possível perceber nas instalações da Casa Daros. O reconhecimento, num mercado dominado pela arte figurativa e pelo abstracionismo lírico, só veio quase uma década depois, em 1966, com a realização de sua primeira mostra individual e o grande prêmio internacional de pintura da Bienal de Veneza.

Inicialmente, a estadia seria de apenas oito meses, graças a uma bolsa não renovável. Acabou estendendo-se até os dias de hoje, com apenas um intervalo: durante as manifestações de 1968, seu engajamento político – é neste ano que publica o texto Guerrilha Cultural – obriga-o a viver fora da França por um ano. Milita numa série de causas, participando de protestos contra a ditadura de Pinochet, no Chile, e do boicote contra a Bienal de São Paulo de 1969.

Desde as primeiras experiências ainda na Argentina, no contexto do Grupo Arte Concreto-Invención, passando pela reflexão no contexto do Groupe de Recherche d’Art Visuel, que ajuda a criar em 1960, o caráter coletivo da produção, e sobretudo da reflexão, impôs-se. Le Parc lembra-se de como eram intensas as trocas entre os vários artistas que circulavam por Paris e demonstravam interesse em pesquisas complementares às suas, também dos brasileiros com que conviveu no período, como Arthur Luiz Piza, Lygia Clark e Abraham Palatnik.

O artista concorda com o diagnóstico de que a arte cinética, que ganha corpo na França de meados do século 20, tem uma forte predominância de atores latino-americanos. E celebra o fato de que essas produções venham ganhando destaque nos últimos anos, como a grande mostra de obras de sua autoria realizada no ano passado no Palais de Tokyo, em Paris, que atraiu 180 mil visitantes. “São fenômenos normais de redescobrimento”, arrisca.

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JULIO LE PARCGaleria Nara Roesler. Avenida Europa, 655, Jardim Europa, 3063-2344. 2ª a 6ª, 10 h/ 19 h; sáb., 11 h/ 15 h. Grátis. Até 30/11. Casa Daros. Rua General Severiano, 159, Botafogo, (21) 2138-0850. 4ª a sáb., 11h/ 19h; dom., 11h/ 18h. R$12 (4ª grátis). Até 23/2. Abertura dia 11/10, 18h.

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