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Areia, terra de José Américo e de Pedro Américo

Sob fog denso e frio de 15 graus, visões dos restos das usinas, uma chaminé aqui, outra ali

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

A estrada que leva à cidade de Areia é sinuosa, chove forte, os sapos cruzam preguiçosamente o asfalto e uma insólita churrascaria A Bagaceira surge no fim de uma curva. Quando as curvas terminam, aparece o município onde fica o Engenho Olho D’Água, terra natal do criador de todo o ciclo literário da cana-de-açúcar, José Américo de Almeida (1887-1980), autor de A Bagaceira. Augusto dos Anjos usa Pau D'Arco em todas as datas Os engenhos hoje arrasados da literatura de José Lins do Rego Engenhos literários Zé Américo, como o chamam na região, não conseguiu notoriedade maior do que a do seu conterrâneo pintor, Pedro Américo de Figueiredo e Melo, a quem dedicaram a placa na entrada da cidade: "Aqui nasceu Pedro Américo." Pedro ganhou a Europa, e Zé Américo fez da política nacional um dos ramos de sua atividade profissional, chegando a governador. Os mototaxistas, lacônicos como o personagem de João Miguel no filme O Céu de Suely, esperam passageiros debaixo de chuva, a cidade toda está envolta num fog denso e o frio chega a uns 15 graus. No meio dos prédios muito antigos, um fabuloso Theatro Minerva, de1859, o primeiro da Paraíba, surge imponente no meio de um conjunto de velhos sobrados, colégios seculares, igrejas amareladas. Cidade a 618 metros acima do nível do mar, com temperaturas incomuns ao Nordeste, tem um patrimônio histórico notável. É aqui também que se encontra o conveniente Museu da Rapadura. Pelas mãos de José Américo, a antiga Vila Real do Brejo de Areia chegou a ter ambições políticas. Getúlio Vargas esteve na cidade, a convite de Zé Américo, que manteve sempre suas ambições acesas: criou aqui também um núcleo universitário, o Centro de Ciências Agrárias, para ajudar a desenvolver a região. Em 1958, Zé Américo deixou abruptamente as lides políticas e se tornou o mais famoso recluso da Paraíba. Pela região, pipocam visões dos restos das usinas, uma chaminé aqui, outra ali, que vão se deixando entrever da estrada. Os caçadores de engenhos vão descobrindo os sucedâneos daqueles que foram famosos na ficção do romance de José Américo, como o Marzagão - cenário da história de amor irrealizado de Soledade e Lúcio, e da perfídia de Dagoberto. A caminho de Pilões, a 20 km dali, crianças com uniformes escolares passam a todo momento pela beira de estrada (cena mais e mais comum por aqui, talvez pela exigência do programa bolsa-família), e os viajantes, derrotados temporariamente pelos buracos na estrada, fazem a notável descoberta das rapaduras com nozes do pequeno Engenho Olho D’Cana, na milionésima curva.

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