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Palco, plateia e coxia

Arcênico: Workshops inéditos na MITsp

As cenas criadas serão apresentadas ao final do curso para o público

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Por João Wady Cury
Atualização:

Dois diretores e atores, um libanês e um palestino, devem ser as estrelas da próxima Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. E, mais do que peças, compartilharão suas experiências em workshop e residência artística. O libanês Rabih Mroué, que tem três espetáculos na mostra, aborda a percepção do tempo - passado, presente e futuro - e a relação com a memória. A pérola da presença de Mroué no evento, porém, é o workshop Brasil em Pixels, que ministrará gratuitamente para um público de 20 pessoas durante três dias, de 10 a 12 de março. O diretor irá propor, a partir de fotos das manifestações brasileiras de 2016, um trabalho que estimule a reflexão sobre essas imagens. Já o diretor e ator palestino Ihab Zahdeh, cofundador e diretor artístico do Yes Theatre, de Hebron (Cisjordânia), dará o workshop de criação coletiva Atos de Resistência I, de três semanas, partindo de um tema que relacione as realidades brasileira e palestina. A partir do assunto escolhido, os participantes deverão criar fragmentos cênicos improvisados que tenham manifestações artísticas como dança e música a partir de um olhar político e estético. As cenas criadas serão apresentadas ao final do curso para o público. Mais informações sobre os dois eventos na página da mostra: mitsp.org

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NÓS, REFÉNS DE NÓS MESMOS O Corpo que o Rio Levou estreia no dia 4 de março, no Centro Cultural São Paulo, e traz consigo um dos temas que mais permeou a vida brasileira dos últimos 50 anos: a política. Traça um painel diversificado desde 1964, a partir dos relatórios da Comissão da Verdade, até as recentes manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff. Produzida pelo Laboratório de Técnica Dramática, com direção de Diego Moschkovich, a peça mostra a história de um casal brasileiro no ano de 2020 segregado por disputas políticas. O autor é Ave Terrena, egresso do Núcleo de Dramaturgia do Sesi-British Council, que propõe uma visão muralista, conceito de Oswald de Andrade inspirado na proposta criativa de pintores mexicanos como Diego Rivera, com vários olhares para um mesmo tema. No elenco, Diego Chilio, Fredy Állan, Maria Emilia Faganello, Sofia Botelho e Sophia Castellano.

E LÁ VEM CARMEN,  DE PROSPER MÉRIMÉE É conhecida a potência da novela Carmen, de Prosper Mérimée, que inspirou Georges Bizet a criar sua ópera homônima. Agora chega a São Paulo a montagem de Carmen para teatro. Com Natalia Gonsales e Flavio Tolezani no elenco, o texto é uma adaptação de Luiz Farina e traz a visão feminina da personagem Carmen, além daquela contada por Don José. A peça deve estrear no palco do Masp em junho, com direção de Marco França, que integrou a companhia potiguar Clowns de Shakespeare.

NACHTERGAELE  POR NACHTERGAELE O coração da mãe do ator Matheus Nachtergaele, Maria Cecília, está de volta a São Paulo. O ator sobe ao palco no dia 1º de abril, no Teatro Raul Cortez, da Fecomércio, para apresentar o espetáculo Processo de Conscerto do Desejo, que celebra a vida da mãe, falecida quando Matheus tinha três meses. Ao lado de dois músicos, violino e violão, ele declama os poemas escritos por Maria Cecília inclusive interpretando a própria mãe. Esta semana ainda Nachtergaele encerra sua participação no filme Piedade, de Claudio Assis, ao lado de Fernanda Montenegro - que faz sua mãe na trama que se passa em Pernambuco.

Certo ou errado nos papéis, há poucas sensações tão intensas quanto aparecer num palco em face de centenas de pessoas. É uma grande suruba emocional. (...) O corpo literalmente ferve de excitação intoxicante. Pomos o pé no palco e sentimos, sem ver, os olhos e os sentimentos da multidão. Cada gesto ou palavras nossa se misturam quimicamente a essa atenção. Aprendemos a manipulá-la e é delicioso sentir o poder que exercemos... Quem experimentou essas sensações compreende com maior facilidade e tolerância os sacrifícios e o ego gigante das estrelas, assim como os excessos a que às vezes se entregam fora de cena, porque tudo parece tão menor e tedioso depois daquelas horas em que nos tornamos o centro do “mundo”, e, curiosamente, na pele de outra pessoa, sem carregarmos os ônus inevitáveis da nossa existência real.”

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PAULO FRANCIS Sobre o ofício do ator, no livro O Afeto que se Encerra.