PUBLICIDADE

Após meses de confinamento, como é a sensação de retomar atividades cotidianas

Entrevistados falam sobre como é redescobrir a ida ao cinema, uma corrida por aplicativo ou compromissos presenciais

Foto do author Gilberto Amendola
Por Gilberto Amendola
Atualização:

Com a cidade avançando para a Fase Verde do Plano São Paulo de reabertura, muita gente está vivendo ou revivendo a experiência de uma “primeira vez”. Depois de 7 meses de isolamento, voltar ao cinema, aos restaurantes, bares, salões de beleza ou a outras atividades tem produzido um misto de ansiedade, alegria e medo.

Após um período no interior da Bahia, voltou à cidade para um desafio profissional Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A design de interiores Andréa Sábbato, de 44 anos, passou os últimos meses em completo isolamento – sem escapar nem para ir ao supermercado. Mas, semana passada, como ela conta, apareceu um trabalho que precisaria ser realizado presencialmente. “Decidi aceitar. Mas o drama começou ainda em casa. Comprei muitas máscaras, não sabia qual usar. Depois, veio meu primeiro Uber nesse período. Como estava garoando, o motorista fechou as janelas. Tive medo e uma covid imaginária.” A situação mais delicada viria a seguir, ao chegar ao prédio em que realizaria o trabalho. “Eu conheço o zelador. Ele me viu, ficou feliz e veio me dar um abraço. Congelei. Fiquem sem saber o que fazer.” Compromissos profissionais têm feito muita gente “sair da toca”. Esse foi o caso da gerente de marketing Helena Poças Leitão, de 40 anos, que, segundo ela, “estava trancadinha em casa desde março”. “Mas fui representar a empresa em que trabalho em um jantar de negócios. Não era qualquer jantar, foi um jantar nas alturas (Dinner In The Sky – 50 metros de altura). A experiência foi legal e estranha ao mesmo tempo.” “Apesar de todos os protocolos, as pessoas ainda não sabem conviver com os cuidados da pandemia. Elas se confundem, trocam apertos de mão, tiravam as máscaras na hora errada”, enumera Helena. “Na volta para casa, fiquei preocupada. Será que coloquei a mão no rosto? Será que fiz isso ou aquilo. Só não me senti culpada porque, apesar da diversão, eu estava trabalhando.” A esteticista Camila Santos, de 40 anos, teve sua primeira vez em um bar. “Não tive sentimento de culpa, sentia muita falta de rever os amigos. Mas, claro, não pode beijar, abraçar... Não poder sair, me sentir tolhida, fez com que a vontade de sair aumentasse. É contraditório, mas é real.” Voltar aos salões de beleza e academias tem sido considerado uma forma de recuperar a saúde mental após um período tão longo de quarentena. “Ir ao cabeleireiro foi até emocionante. Tive medo, receio por mim e pelas profissionais. Mas foi um verdadeiro evento. Fazer as coisas que nos dão prazer está relacionado com saúde mental”, disse a locutora Luciana Priam, de 44 anos.  A primeira vez do oficial de compliance Yves Berbert, de 30 anos, guardou sentimentos parecidos ao voltar a frequentar uma academia de ginástica. “Fiquei esse período fazendo meus treinos em casa. Agora, voltei seguindo os protocolos, sem revezar no equipamento, sem cumprimentar as pessoas. Isso para mim é qualidade de vida. Finalmente, consegui relaxar e me desconectar. Voltei energizado.” Aliás, Berbert também teve sua “primeira vez outra vez” em uma praia da Bahia. “A praia estava vazia. Esqueci que estava de máscara e mergulhei no mar. Foi muito bom, como se eu entrasse em uma máquina do tempo.” Cinéfilos. Já a primeira vez dos cinéfilos no cinema foi uma ocasião registrada em todos os veículos de comunicação. “Na reabertura do Belas Artes, tinha mais jornalista do que público”, lembrou o design gráfico Helcio Hirao, 53 anos, que assistiu a Apocalipse Now em sua primeira sessão em 7 meses. “Cheguei uns 20 minutos antes da porta abrir. Tinha umas 8 ou 10 pessoas na fila. Me senti seguro, as pessoas aprenderam a não aglomerar na fila. Como sou cinéfilo, fico até o fim dos créditos e fiquei feliz em ver a equipe de limpeza atuando, fazendo uma higienização completa”, contou. “Assistir a filmes e ir ao cinema são coisas muito diferentes.”  O publicitário Érico Fuks, de 52 anos, também esteve na primeira sessão do Belas Artes. “Era o segundo da fila, mas o primeiro a finalizar a conta. Quando entramos no cinema, a equipe de funcionários aplaudiu. Desde esse dia, já fui 9 vezes ao cinema.” Sobre o sentimento de voltar às salas, Fuks revelou: “Sou meio antissocial. E a gente se acostuma com as coisas, adota uma nova rotina... Mas quando eu estava lá, lembrei de como era minha vida há 7 meses. E percebi a saudade que sentia dos amigos, bilheteiros e tudo mais que existe dentro de um cinema.”  Tudo novo. Depois de trabalhar 15 anos em agência de publicidade, Diego Passos, de 35 anos, começou seu isolamento social pedindo demissão do emprego e mudando-se para uma fazenda no interior da Bahia. Passos confessa que era o tipo de pessoa que não sabia instalar um chuveiro, mas que sua mudança fez com que ele vivesse muitas primeiras vezes: “Comecei a construir cercas elétricas, plantar capim, dar de mamar para uma bezerra recém nascida...”. O projeto dele era ficar na fazenda até o ano que vem, mas um convite de trabalho o fez mudar de ideia. “Voltei para um desafio profissional. Recomeçar em uma função nova é minha outra primeira vez nesta pandemia.”  A jornalista Mirella Nascimento, de 36 anos, pode ser considerada uma especialista em primeiras vezes. Em 2013, ela criou um Tumblr (plataforma para publicação de textos e imagens), em que registrou tudo o que fez pela primeira vez naquele ano (valia viagens, experiências, comidas novas...). “No início de 2020, achei que seria uma boa ideia retomar esse projeto no Instagram. Eu ia para a Olimpíada no Japão, viajaria para um casamento na Inglaterra... Bom, mas aí veio a pandemia e tudo mudou.” Ainda assim, Mirella manteve o Instagram Todo Dia Uma Primeira Vez. “Fui buscar esse olhar de encontrar algo novo todos os dias. Registro coisas que podem parecer banais, mas são importantes. Por exemplo, fiz aulas de ioga pelo YouTube, aprendi receitas”, contou. “Espero que no ano que vem a gente possa ter planos mais extraordinários. Eu, por exemplo, quero ir para a Olimpíada.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.