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Aos 35 anos, escritora Paula Pimenta arrebata jovens

Em três anos e meio, mineira lançou 5 títulos que venderam quase 100 mil exemplares

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Como boa mineira, a escritora Paula Pimenta vem construindo sua carreira sem alarde e longe dos holofotes, e já acumula números impressionantes: em três anos e meio, lançou 5 títulos, divididos em duas séries, que venderam, juntos, quase 100 mil exemplares. A fórmula do sucesso não é complicada, mas nem por isso é replicada facilmente. Paula, hoje com 35 anos, escreve para adolescentes, sobre o universo dessas meninas e meninos e com um sotaque brasileiríssimo. O segredo todo está no processo de identificação do leitor com a personagem, que aconteceu na primeira série da autora: Fazendo Meu Filme, cujo quarto e último volume - Fani Em Busca Do Final Feliz - foi lançado agora, e está se repetindo em sua segunda empreitada, Minha Vida Fora De Série, para a qual também estão previstos quatro livros. "É gostoso ler um livro em que a mãe da personagem a leva no shopping, em que ela come pão de queijo, coisas assim, mais próximas", conta Paula, leitora voraz de chick lit, aquela literatura feita para meninas e mulheres, gênero em que ela mesmo vem tentando deixar a sua marca. Suas histórias são típicas da idade a que se destinam, mas mães têm sido vistas com frequência nas filas que ficam maiores a cada lançamento - no mês passado, em São Paulo, a sessão de autógrafos durou mais de seis horas. Nesse dia aconteceu algo que explica um pouco a relação da autora com suas leitoras, o principal fator desse sucesso todo. "Estava tão cheio que não queriam me deixar tirar fotos. As meninas tinham chegado muito cedo e falei: nem que eu saia daqui à meia-noite, mas vou tirar foto sim. Vejo o lado delas. Até há poucos anos, eu era a leitora que estava ali na fila." A protagonista de Fazendo Meu Filme é Fani. Aos 16 anos, ela se vê tendo de escolher entre fazer um intercâmbio cultural ou viver um novo amor. É com esse impasse que Paula Pimenta começa a série. Nos três volumes seguintes o leitor acompanha sua vida durante o intercâmbio e a batalha por fazer vingar um amor à distância, vê quando ela se apaixona de novo, volta com Fani ao Brasil, onde a garota tem de enfrentar a mãe que quer que ela estude direito. É nessa hora que ela retoma o contato com o namoradinho do intercâmbio. Surge então a ideia de fazer faculdade em Los Angeles. A história de Fani acaba quando ela se forma em cinema nos Estados Unidos, seu sonho. Mas para que os saudosos leitores não sofram com a ausência de notícias - houve quem pedisse que história continuasse até que Fani ficasse velhinha -, Paula pretende dar uma ou outra pista sobre ela em Minha Vida Fora de Série, cuja protagonista é Priscila, personagem secundária da coleção anterior. "Como os leitores, também fui ficando triste porque ia acabar, mas série muito longa vira enrolação e se perde. Preferi pegar um personagem que estivesse naquele mesmo universo funcional e criar uma história nova", conta. Paula comenta que escreveu, em primeiro lugar, para ela mesma, sem a intenção de publicar. "Minha adolescência foi muito marcante e minha voz interior ainda é adolescente. É uma fase em que tudo é muito intenso." Os livros não chegam a ser autobiográficos, mas ela confessa que se inspirou na própria experiência de intercâmbio para escrever o primeiro. Essas lembranças dispararam o processo criativo, mas 5 capítulos depois de começado o livro, ela travou. Como sempre teve vontade de passar uns tempos em Londres, aproveitou a deixa e se matriculou, lá, num curso de escrita criativa. "Aqui, a gente tem distração demais. Lá, consegui centrar e escrevi o livro até o final." Voltou ao Brasil em 2006, "doida" para publicar. Bateu à porta de duas editoras mineiras, que nem leram o livro e já disseram não. De um dos editores, ouviu que adolescente não lia livro grosso. E que seu trabalho não agradaria ninguém, nem os adultos, que achariam tudo bobo. Vale comentar que o primeiro volume da série tem 330 páginas e não é dos maiores - o último tem 607.Hábito. Chegou então à Autêntica, de livros acadêmicos e sem nenhum juvenil em catálogo. Os editores demoraram para ler, mas leram. E dois anos depois do início da batalha pela publicação, Fazendo Meu Filme 1 chegava às livrarias com uma mirrada tiragem de mil exemplares. "Quando lançamos o primeiro volume nos impressionamos com a identificação que os jovens tinham com o livro. Recebíamos mensagens e até depoimentos de mães de leitoras dizendo que suas filhas tinham adquirido o hábito de ler por causa da Paula Pimenta", diz Rejane Dias, proprietária da Autêntica. Esses primeiros mil exemplares esgotaram em um ano sem que fosse feita uma divulgação formal. O esforço da autora de visitar colégios, a divulgação nas redes sociais - na época, o Orkut -, e o boca a boca foram essenciais nesse começo. As tiragens seguintes saltaram para 3 mil; depois, 7 mil; e hoje já saem com 10 mil. Um dos desafios da escritora é dar conta de continuar falando com seu público original, que foi crescendo e amadurecendo enquanto ela escrevia a série, ao mesmo tempo em que novas leitoras se juntam ao fã-clube. "Agora tenho de ter mais cuidado porque meu público é cada vez mais novinho. Tem menina de 10 anos nos lançamentos. E as mais velhas querem que eu ouse um pouco mais. Como tem muito romance nos livros, elas querem uma pimentinha, mas não posso colocar. Daqui a pouco vou ter que inventar um pseudônimo para escrever livro adulto", brinca. Sonho de todo escritor, Paula Pimenta já ganha dinheiro com os livros que publica e, em meados de 2011, teve de largar tudo para se dedicar apenas à escrita e à divulgação. Algum dia conseguirá destronar Thalita Rebouças, musa teen que gera histeria por onde passa, que já publicou 14 livros e vendeu 1,2 milhão de exemplares? "Não tem isso, não. Tem espaço para todo mundo e ela começou primeiro." Paula diz que não acompanha a produção de Thalita. "Nunca li. Já peguei em uma livraria, mas não li não. Vi que é bem diferente do meu. Ela escreve mais contos e o meu é mais romance mesmo. São estilos e linguagem diferentes."

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