AO VIVO, AS FACES DE MAYER HAWTHORNE

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Por Redação
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Em um show de uma hora e meia, o cantor de soul e afins Mayer Hawthorne transita livre por três ou quatro vertentes de pop retrô. Há o Mayer Motown, influenciado por Smokey Robinson e o legado da gravadora, o Mayer do pop sessentista, com ecos de Beatles, em Dreaming, e o smooth soul man de Shiny and New e Long Time, apologias ao lustroso R&B do fim dos anos 70. Desses, o mais interessante é o último, pois desprende sua música do revival de soul que se tornou carne de vaca no Brasil ultimamente, lotando festivais dedicados ao gênero e atraindo excursões de nomes importantes pela América Latina (Amy Winehouse, Sharon Jones, Bruno Mars, etc.). Em show no Cine Joia, nesta quinta-feira, o andamento quase disco de Long Time (pense em Miss You, dos Stones) chegou logo após um intervalo na metade do show, para dar um empurrão nas coisas. Até então, Mayer fazia o seu tipão romântico, um moderno Buddy Holly, de óculos e paletó, que canta soul em vez de rock e seduz a plateia com a sinceridade de suas declarações de amor glicêmico (o logotipo de Mayer, projetado nas paredes do Joia, é um coração partido).Com casa cheia e som a desejar (como tem sido praxe), parecia um show de abertura, a rotina de um entertainer que faz graças, toca hits das antigas com sua banda cover e esquenta o palco. Mayer já fez isto por aqui há exatamente um ano, quando abriu para Amy e Janelle Monáe no festival Summer Soul. Na época, parecia de bom tamanho para um show pouco ofensivo. Mas nesta quinta-feira, Mayer era o peixe grande, e algo mais contundente era necessário para que seu show fosse além da monotonia de bares de rock com bandas de cover. Descobriu-se então, lá pela metade da noite, que Mayer abria o show para si: o cantor abandonou o gentil e deixou sua competente banda tocar mais pesado. Deste ponto em diante, grooves de funk menos Motown, mais Prince, dominaram a set list, mostrando que, mesmo com um bom estoque de hits sensíveis, ao vivo, Mayer é capaz de agradar aos que buscam um pouco mais de testosterona. No entanto, a agressividade de Mayer é longe do desejável para uma banda que propõe inflamar uma casa lotada, e fora os fãs incondicionais, com letras na ponta da língua, não se viu focos sustentáveis de empolgação coletiva na plateia. Essa segunda vinda do cantor e produtor ao País ocorre depois do lançamento de seu segundo disco de canções originais. Mayer está mais maduro, tem contrato com a Universal e um disco elogiado por fazer um revival com atenção aos detalhes de época - ao contrário do que faz Adele e o soul contemporâneo que na verdade é antigo. / R.N.

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