Antônio Pedro monta peça interativa

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Por Agencia Estado
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A história do Brasil contada como uma grande celebração, com o enredo e as cenas mudando em função da reação do público e de acréscimos no elenco. Essa é a proposta do espetáculo O Incrível Encontro, que estréia sexta-feira, na Fundição Progresso. O projeto é do Centro Experimental Teatro Escola (Cete), ex-Teatro da Universidade do Estado do Rio (Tuerj) e tem coordenação de Antônio Pedro e patrocínio do governo estadual. "O espetáculo vem sendo criado há um ano e apresentado toda quarta-feira de Lua Cheia", conta Antônio Pedro, que coordena a criação do texto e divide a direção com Anselmo Vasconcelos. "Quem chega e pede para participar entra e encontra seu lugar nas histórias que encenamos." O elenco tem 104 pessoas e cada um escolhe seu lugar no palco. Vasconcelos reconhece que trabalhar assim é difícil, mas enriquece o espetáculo. "Numa estrutura anárquica, é perigoso exercer o autoritarismo, mas as individualidades ficam de lado por causa do trabalho coletivo", diz o diretor. "Houve casos, como o do mímico Dênis Ribeiro, que faz estátua viva na rua e se tornou importante na peça." O músico Gabriel Moura, do grupo Farofa Carioca, sentiu na pele essa renúncia. Ele faz o narrador e assina a música do espetáculo, definido pelo grupo como ópera popular. "Muitas vezes, eu cheguei com uma canção que tinha me dado muito trabalho e o pessoal achou que não funcionava em cena", lembra ele. "Tive de deixar a vaidade de lado e ver o que ficava melhor na opinião de todos." Ricardo Petraglia, que participa da encenação e da produção, ressalta o senso de responsabilidade de cada participante, muitos amadores (30 têm registro de ator e 15 vivem da profissão), entre 18 e 23 anos. "Cada um cuida de sua parte, de sua roupa e, se der errado, não tem importância porque a gente corrige na hora; isso faz parte do espetáculo." Antônio Pedro lembra que as grandes experiência teatrais brasileiras (Opinião, Oficina, Asdrúbal Trouxe o Trombone) aconteceram quando um grupo de atores e/ou diretores deixou de lado a individualidade e trabalhou coletivamente. "É assim porque, ao contrário de outras artes, o fato teatral depende da atuação do ator, ou seja, não é como um quadro e um filme que, depois de prontos, vivem sem nenhuma relação com o autor", ensina Antônio Pedro. "Não queremos um espetáculo acabado porque teatro pronto é mentira, não existe." Mesmo assim, a peça tem um enredo. É dividida em cinco grandes cenas, contando cada século da história do Brasil e os encontros (ou desencontros) desse período: do índio com o europeu, do mameluco com o escravo africano, do ouro de Minas com as idéias da Revolução Francesa, da família real portuguesa com a população brasileira, e do Brasil com seus 500 anos. "Tudo isso vai sendo contado com música e grandiosidade, numa grande ópera popular", adianta. "Agora que vamos estrear, só estamos tomando certos cuidados para não destruir cenários e figurinos e usá-los no dia seguinte, como no teatro tradicional." A peça tem temporada prevista de seis semanas, mas Pedro garante que tudo pode mudar depois da estréia, pois continuará aberta a quem quiser participar. Depois desse espetáculo, o grupo pretende encenar a tragédia Electra, de Sófocles, com tradução de João Ubaldo Ribeiro. "Será nosso texto inicial, mas também vai ser criado à medida que os ensaios ocorrerem."

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