PUBLICIDADE

Antônio Moreno lança livro sobre cinema

Cineasta, pesquisador e professor lança A Personagem Homossexual no Cinema Brasileiro, que reúne 125 produções entre elas Deus e o Diabo, de Gláuber Rocha, que registra o beijo entre duas mulheres

Por Agencia Estado
Atualização:

Antônio Moreno, cineasta, pesquisador e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) lança nesta quarta-feira no Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo, o livro A Personagem Homossexual no Cinema Brasileiro, fruto de parceria entre a Funarte e a EdUFF, que nasceu como tese de mestrado defendida na Universidade de Campinas (Unicamp), em 1995. Cinqüenta fotos de alguns dos mais importantes filmes brasileiros que têm o homossexualismo como tema central ou secundário ilustram o livro. Moreno levantou 125 produções em arquivos de papel e cinematecas. Só conseguiu acessar 67 deles, em vídeo ou película. O leitor se espantará com a inclusão de Deus e o Diabo (Glauber/64), Sargento Getúlio (Hermano Penna/82), Memórias do Cárcere (Nelson Pereira/84), além de duas ingênuas chanchadas, Carnaval Atlântida (Burle/42) e Os Dois Ladrões (Manga/60) no inventário de filmes que abordaram o homossexualismo. Colocados ao lado de Rainha Diaba (Fontoura/75), República dos Assassinos (Miguel Faria/79), Beijo da Mulher Aranha (Babenco/84) e Romance (Bianchi/88), parecem estranhos no ninho. Antônio Moreno justifica tais inclusões ao lembrar seqüências que, por serem secundárias na narrativa, ficaram esquecidas na memória do espectador. No caso de Deus e o Diabo, ele registra a cena em que Dadá (Sônia dos Humildes), mulher de Corisco, beija Rosa (Yoná Magalhães), mulher do vaqueiro Manuel, na boca. A citação de Sargento Getúlio se deve ao fato de a personagem principal, toda vez que quer referir-se a algo fraco, covarde recorrer a corruptelas de vocábulos ligados ao homossexualismo. No caso de Memórias do Cárcere, as cenas de homossexualismo se referem ao relacionamento de dois presos. Depois de inventariar 125 filmes e analisar 67, Antônio Moreno chega a conclusões desanimadoras. Os cineastas brasileiros - com raras exceções - vêm o homossexual como um ser desprovido de humanidade, que habita ambientes sórdidos, veste-se de forma espalhafatosa, é alienado política e socialmente e carrega violência exacerbada. Homossexuais com bons empregos e relações estáveis, baseadas em laços afetivos e não no sexo pago, são raríssimos. Moreno analisa o thriller pop-gay-black Rainha Diaba, de Antônio Carlos Fontoura, que firmou o prestígio de Milton Gonçalves como um dos maiores atores do País. Diaba, a personagem-protagonista é uma criação de Plínio Marcos, que se inspirou em figura real (Madame Satã). Ela comanda império de crime e violência. Para o ensaísta, o filme traz conotação pejorativa e estereotipada para a imagem dos homossexuais. Todos convivem com realidade extremamente violenta, são obsessivos e sádicos. Em compensação, Moreno só tem elogios para filmes como O Menino e o Vento (Christensen/66), Marília e Marina (L.F. Goulart/76), Vera (Sérgio Toledo/86), Leila Diniz (L.C. Lacerda/88), Romance (Sérgio Bianchi/88) e Cinema de Lágrimas (Nelson Pereira dos Santos/95). A Menina do Lado (Alberto Salvá/1988), no qual Sérgio Mamberti interpreta um homossexual maduro, amigo e conselheiro da ninfeta (Flávia Monteiro) pela qual Reginaldo Farias se apaixona, ganha avaliação positiva e afetuosa. Mesmo caso de O Beijo da Mulher Aranha (Babenco/84), cujo protagonista, o homossexual Molina (William Hurt), se modifica na convivência com um preso político (Raul Julia). Serviço - A Personagem Homossexual no Cinema Brasileiro. De Antônio Moreno. Lançamento nesta quarta-feira, a partir das 18h30, no Espaço Unibanco de Cinema (Rua Augusta, 1.475)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.