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Antonio Espinosa traz suas paisagens inventadas a SP

Por Agencia Estado
Atualização:

Num primeiro momento, tem-se a certeza de que a fotografia é a linguagem de Antonio Espinosa, jovem artista cubano que inaugura amanhã à noite, na Galeria Francine, sua primeira exposição no País. Rapidamente, porém, o espectador se surpreende ao perceber que as paisagens ao mesmo tempo exuberantes e solitárias que tem diante dos olhos são pinturas de um realismo impressionante, mas que existem apenas na imaginação do artista. Mares revoltos, águas plácidas que refletem as nuvens do céu, árvores e arbustos do mangue... Todos os elementos retratados por Antonio Espinosa são colados pelo artista num processo de criação curioso e preciso. Para criar suas composições, ele elege uma série de imagens-símbolo e as reúne numa superposição de planos bastante rigorosa, em que recodifica os elementos a partir de códigos realistas, usando não a técnica fotográfica - como o espectador é levado a pensar -, mas seu longo aprendizado no campo da gravura, técnica que estudou durante sete anos e exerceu em seus primeiros anos de carreira. A fotografia lhe é útil, assim como as inúmeras imagens de diversas fontes que cataloga numa espécie de banco de imagens a que recorre quando necessita. Muitas vezes, ele próprio capta as imagens que utilizará depois. "A foto ajuda a fixar a inconstância da minha vista", diz, ressaltando, porém, que a utiliza como um meio e não como um fim. A ausência de cor (toda a sua obra é em preto-e-branco, o que pode parecer surpreendente para um paisagista oriundo de um país tão colorido e vibrante como Cuba) não apenas ajuda a criar um clima misterioso e reforça a solidão contida nas telas de Espinosa, mas também tem uma função técnica: ela ajuda a harmonizar, a sincronizar as imagens que ele costura nessa espécie de pastiche imperceptível. Apesar de admirar a escola hiper-realista americana e de tê-la estudado com bastante afinco, o pintor não se considera um seguidor do hiper-realismo. Simplesmente porque sua obra não reflete a realidade e sim uma criação mental, uma invenção que só está em sua imaginação. Além do mais, ele lembra que os hiper-realistas chegam a renunciar à pincelada - raspando a tela com gilete depois de pronta para eliminar os vestígios do pincel. "Eu já gosto de desfrutar da pintura como material", confessa. É só olhar para seus céus e mares que se entende o que ele dizer. Outra dúvida que gira em torno de sua obra dita mental é a semelhança ou diferença entre ela e a paisagem caribenha, sua relação com as tradições cubanas. Apesar de não corresponder a uma paisagem específica e da ausência de cor, é evidente o caráter tropical do trabalho. Os mares, que Espinosa pinta desde 1998, também falam muito da história desse país cercado por água e que luta para preservar sua história revolucionária. "É verdade que meus trabalhos são, antes de mais nada, paisagens tropicais, que têm a ver com a visualidade do trópico, porque foi onde vivi minha vida inteira. A crescente presença das marinhas, com suas conseqüentes referências políticas - afinal, foi pelo mar que chegou a Revolução e é por meio dele que se vêem os reflexos mais evidentes da crise que sacode o país (por meio dos balseiros) -, também decorre mais do substrato cultural do artista do que de um exercício consciente de crítica. "O que eu proponho é uma paisagem edulcorada, hedonista", diz ele. Falar em carreira no caso de Espinosa pode parecer um tanto quanto precipitado, já que o artista tem apenas 27 anos. Mas ele já tem 12 anos de experiência e um currículo com amplo leque de exposições coletivas em vários países do mundo. Sua primeira mostra individual ocorreu no ano passado no México, onde residiu por alguns meses. A paisagem é um tema que o encanta desde o liceu, quanto pintava temas mais ingênuos e alegóricos do que os atuais. Graças a um professor, descobriu que poderia fazer a mesma coisa utilizando a gravura. Da gravura para a pintura foi um segundo pulo. Mas suas principais referências continuam no campo da tradição pictórica cubana, iniciada com a escola costumbrista do século 18 até chegar a Tomás Sánchez, pintor nascido em 1948 e que segundo Espinosa revolucionou o paisagismo cubano ao renunciar à "paisagem de domingo" - aquela feita com o cavalete ao ar livre -, influenciado pelo informalismo norte-americano e que teve um grande impacto sobre sua obra. Antonio Espinosa. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 10 às 14 horas. Galeria Francine. Alameda Lorena, 1.998, tel. 3081-5564. Até 6/9.Abertura amanhã, às 20 horas.

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