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Antônio Cícero e Alice Ruiz, no festival de poesia

Evento reúne poetas e críticos para desvendar o fazer poético na antiga capital goiana

Por Agencia Estado
Atualização:

A poesia tomou conta da cidade histórica de Goiás, antiga capital goiana, distante cerca de 150 km da atual, Goiânia. Desde quinta-feira, acontece o Festival de Poesia de Goyaz, que vai reunir até domingo poetas e críticos com uma única missão: desvendar, na medida do possível, o fazer poético. Na manhã desse sábado, uma mesa redonda reuniu os poetas Antônio Cícero e Alice Ruiz e o crítico Raúl Antelo. Juntos, discutiram a forma poética. Cícero, que começou lembrando que só publicou poesia depois de ser conhecido como filósofo e letrista, afirmou que a poesia reverte o processo de criação por promover uma cisão no modo das palavras. "Se podemos traduzir plenamente uma frase simples para outra língua, o mesmo não conseguimos com um poema", disse. "Daí o interessante trabalho realizado por Haroldo de Campos, que dizia fazer ´transcriação´ da poesia." O autor de A Cidade e os Livros (Record) lembrou ainda que ler poesia representa um processo ativo, ou seja, exige um comportamento do leitor diferente daquele diante de uma canção ou de uma obra argumentatória. "Durante a leitura de um poema, a subjetividade do leitor se transforma na objetividade da poesia", disse. "Há um livro de Carlos Drummond cujo título reflete bem esse processo: ´A Vida Passada a Limpo´. Ou seja, a vida seria o rascunho que os poemas passam a limpo." ´Percebi que a poesia nos deixa acordados´ Já Alice Ruiz começou sua apresentação lembrando a juventude, época em que não gostava da poesia apresentada na escola. A sedução veio de uma forma peculiar: um primo que servia ao exército voltou para casa por estar com malária. "Assim, durante seus delírios, ele recitava as poesias que havia decorado como forma de manter a lucidez", lembrou. "Com isso, percebi que a poesia nos deixa acordados." Poeta e compositora, Alice tem se especializado na produção e divulgação de haicais, pequenos poemas de três versos com métrica exigente e que tem origem na cultura japonesa. "Como o haicai não permite a presença humana apenas de outros seres da natureza, descobri que é uma forma diferente de se relacionar com a vida." Professor de Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, Raúl Antelo apresentou uma interessante dissertação sobre a relação do tátil na poesia. Apesar de ter lido sua tese, o que conferiu um certo enfado à apresentação, Antelo comentou assuntos instigantes como as formas com que Mário de Andrade foi retratado por diferentes pintores. Assim, se Cândido Portinari o apresentou de forma épica, Lasar Segall acentuou sua face mais escondida, a demoníaca. "Essa última, acredito, é a que precisa ser aplicada ao modernismo como um todo", disse.

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