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Antologia reúne poesia expressionista alemã

O expressionismo abarcou poetas que optaram por versos livres ou não; rimas ricas, pobres ou inexistentes; poemas longos, outros curtíssimos

Por Agencia Estado
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Para alguns críticos, é na poesia que a literatura alemã apresenta maior efervescência e se destacam as maiores contribuições. E, como último grande movimento cultural, que abrangeu todas as áreas artísticas, o expressionismo trabalhou com a crise da sociedade burguesa-imperialista que se manifestou a partir do fim do século 19. Alguns dos poetas que se destacaram no período foram selecionados pela especialista em literatura alemã Cláudia Cavalcanti, que organizou o livro Poesia Expressionista Alemã - ma Antologia. "O expressionismo, por ter sido um movimento conduzido por jovens (com ideais vanguardistas, utópicos, românticos), tem a tendência de atrair leitores e admiradores jovens", comenta Cláudia. "Quando eu tinha pouco mais de 20 anos e estudava germanística em Leipzig, freqüentei as conferências do professor Klaus Schuhmann, que ocupava a cátedra de Literatura do Século 20." Nas aulas, Cláudia conheceu e passou a admirar o trabalho de poetas como Gottfried Benn e Iwan Goll, idolatrados por Schuhmann. A unidade desse movimento consistia na rejeição à sociedade e à uma cultura paralisada, afogada em convenções, situação que se encontrava no extremo oposto da realidade social. Assim, a radical cultura antiburguesa queria recuperar valores como liberdade, humanidade, naturalidade e felicidade, mas soube expressar também a ruptura com as normas estéticas como atividade independente da "arte pela arte". "Por isso, o expressionismo abarcou poetas que optaram por versos livres ou não; rimas ricas, pobres ou inexistentes; poemas longos, outros curtíssimos", conta Cláudia que, de volta a São Paulo, se empolgou a ponto de ensaiar as primeiras traduções para o português. Um dos primeiros foi o austríaco Georg Trakl. Seu entusiasmo contagiou Samuel Leon, da editora Iluminuras, que a incentivou a fazer uma seleção, editada em 1994 com o título De Profundis e Outros Poemas. Empolgada, Cláudia continuou sua pesquisa. "Comecei pela seleção, levando em conta o grau de dificuldade e sua eficácia em português, pois não adiantaria incluir poemas que não funcionassem em nossa língua, mesmo se tratando de uma edição bilíngüe", afirmou. "Quando traduzo poesia, a primeira versão sempre é feita à mão, "jurassicamente"; algum tempo depois, digito o poema, imprimo-o e reviso-o, muitas e muitas vezes." Na escolha dos poetas, o critério de Cláudia foi elástico: mesmo aqueles considerados datados, principalmente pelo conteúdo programático de sua obra, foram selecionados, pois são importantes para a compreensão do movimento expressionista. "Muitos ficaram de fora, cerca de 350." As dificuldades, porém, foram muitas. "No caso de poemas rimados e/ou metrificados, às vezes os respeitei, quando foi possível, outras não, como Fim do Mundo, de Jakob van Hoddis." Quando sentia que o poema não teria uma tradução adequada, Cláudia simplesmente o excluía da antologia. A tradutora buscou montar uma seleção que revelasse as mais notáveis características do expressionismo, como a exibição de sentimentos rebeldes contra uma Alemanha arcaica, enrijecida, sofrendo ainda as conseqüências de uma revolução industrial muito tardia e de estruturas política e econômica instáveis. Os poemas refletem claramente essa situação: um lirismo acentuado, mas de tempos incertos. Poemas de amor também, carregados e muitas vezes sombrios - grande parte deles escrita logo antes ou durante a 1.ª Guerra. Tempos sombrios, portanto: dos 16 poetas selecionados por Cláudia Cavalcanti, três morreram em combate (Lichtenstein, Stadler e Stramm), dois cometeram suicídio (Hasenclever e Trakl), Van Hoddis em campo de concentração, Heym afogou-se, Rubiner foi vitimado pela pneumonia. A antologia organizada por Cláudia conta ainda com xilogravuras e águas-fortes que oferecem uma amostra parcial da riqueza do expressionismo gráfico. Apesar da pequena parcela, as ilustrações permitem verificar como o movimento foi uma das principais matrizes e referências para vários dos artistas modernistas brasileiros, como Lasar Segall, Goeldi, Anita Malfati e Guignard. O lançamento de Poesia Expressionista Alemã faz parte de uma série de eventos referentes ao movimento artístico. Assim, clássicos do cinema, como Dr. Mabuse, estão sendo apresentados na Cinemateca (Largo Senador Raul Cardoso, 207). A partir do dia 21, no Sesc Belenzinho, começa o ciclo de dança Affectos Humanos, de Dore Hoyer, uma das mais importantes bailarinas e coreógrafas expressionistas alemãs. Também um ciclo de debates começa no dia 19, no MAM. Poesia Expressionista Alemã - Uma Antologia (232 págs. R$ 28), Estação Liberdade. Lançamento hoje, no Instituto Goethe (R. Lisboa, 974), às 20h.

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