
28 de março de 2013 | 02h12
Ainda não fizeram, que eu saiba, um bom filme de Madame Bovary (o último que tentou sem sucesso foi o falecido Claude Chabrol), mas o filme definitivo de Anna Karenina está nas telas, deslumbrando todo o mundo. A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à sua altura para fazer o roteiro enquanto Tolstoi encontrou o Tom Stoppard. E os dois contaram com um diretor aventureiro como Joe Wright, que conseguiu fazer um filme altamente estilizado, na sua redução dos cenários - até o de uma corrida de cavalos - a um teatro e seus bastidores, sem que isto parecesse preciosismo vazio ou atrapalhasse o drama. O filme é teatro sem ser teatral, como escreveu o Xexéo. E se tivesse sido filmado de forma convencional não teria a metade do impacto visual que tem. Com pouquíssimas tomadas externas, sem sair dos confins de um teatro, o filme mostra a Rússia imperial em todo o seu esplendor e miséria. O vasto exterior só aparece como contraponto para o claustrofóbico pequeno mundo da corte.
Joe Wright, para quem não se lembra, é o diretor de, entre outros, o filme Atonement (Desejo e Reparação, se não me engano), baseado num romance de Ian McEwan. O filme contém o que é provavelmente o mais longo "travelling" ininterrupto da história do cinema, toda a confusão na praia de Dunquerque onde tropas inglesas fugindo dos alemães no começo da guerra esperavam para serem retiradas, captada numa única e interminável tomada de tirar o fôlego. Podia ser exibicionismo técnico gratuito, mas mostrava a audácia de um diretor, que agora se confirma com este entusiasmante Anna Karenina. Olho nele.
Mesmo para quem acha que nunca haverá outra Anna como a Greta Garbo, ou faz restrições a um ou outro incisivo da Keira Knightley, o filme é uma experiência imperdível. Ganhou só um Oscar, o que também o recomenda.
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