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"Anjos Proibidos", um velho escândalo

Um livro com 25 fotos sensuais de meninas de 10 a 17 anos enfureceu um promotor e parte da opinião pública em 1991. Hoje, o fotógrafo Fábio Cabral e as modelos avaliam as conseqüências

Por Agencia Estado
Atualização:

Em 27 de agosto último, Fábio Cabral estava no Maranhão filmando O Dono do Mar, longa-metragem de Odorico Mendes baseado na obra homônima de José Sarney, do qual é diretor de fotografia. Entre coqueiros e rolos de filme, o autor de Anjos Proibidos nem se lembrou que naquele dia completavam-se dez anos do lançamento da polêmica publicação. "Muita coisa aconteceu nesse período. Publiquei outros livros, fiz muitos filmes publicitários e estreei no cinema", conta o fotógrafo, enquanto folheia um dos poucos exemplares de Anjos Proibidos que guarda em seu estúdio. O livro com 25 fotos sensuais de meninas entre 10 e 17 anos teve tiragem única de 500 volumes - quase metade deles apreendidos pela Justiça poucos dias depois do lançamento. Hoje, pode ser encontrado na livraria virtual amazon.com, numa versão em inglês que Cabral nunca viu e diz ser pirata. Oferecido no site por US$ 60, Anjos Proibidos está esgotado. Fugitivo - As imagens de meninas de calcinhas ou com os seios à mostra, clicadas entre 1985 e 1991, enquadraram o fotógrafo num inquérito policial. Acusado pelo então coordenador das Curadorias da Infância e da Juventude, Munir Cury, de estar infringindo o Estatuto da Criança e do Adolescente, Cabral recebeu ameaça de prisão. Seu estúdio foi invadido e os negativos das fotos, confiscados. E como estava em Las Leñas - de férias - quando a polêmica estourou, o autor foi tachado de fugitivo. O artigo 241 do Estatuto proíbe "a produção de fotografias pornográficas que retratem crianças ou adolescentes". Na sentença publicada em 1994, o juiz Osvaldo José de Oliveira define as imagens de Anjos Proibidos como "artísticas". Não apenas absolve o autor como recomenda à promotoria "cautela em separar o erótico daquilo que poderia caracterizar cena de sexo explícito ou pornográfico". O fato de Anjos Proibidos ter sido colocado à venda apenas na Galeria de Arte Paulo Figueiredo, onde foi lançado, também colaborou para a sentença favorável. Livro de galeria - Risonho, Cabral lembra: "As manchetes anunciavam: Anjos Proibidos some das prateleiras. Que prateleiras!? O livro só esteve exposto num balcão, em uma única galeria!". Dias antes de figurar nas páginas de polícia, o fotógrafo havia sido destaque nas de cultura, em inúmeras matérias elogiosas à publicação - a qual ele assume, sim, ser pautada pela sensualidade. "Se eu disser que essas fotos não são carregadas de erotismo estarei sendo hipócrita. Mas elas são respeitosas, parecem uma pintura. A idéia do projeto nasceu da percepção de que as mulheres exercitam a sedução desde muito cedo. Quando acompanhava testes para um anúncio de brinquedos, por exemplo, via que as meninas jogavam charme para serem escolhidas." Os anjos que Cabral fotografou ou trabalharam com ele em campanhas publicitárias ou foram convidadas entre as filhas de amigos. Todas as imagens foram clicadas com a autorização e presença dos pais. Quando determinou a apreensão dos livros, Munir Cury disse aos jornais que a bênção paterna ao trabalho poderia acarretar a perda do pátrio poder - ou seja, os direitos de pai e mãe sobre as crianças. Axé tudo bem? - "Nunca imaginei que as fotos pudessem provocar tanta discussão", garante Cabral, que não foi pioneiro em retratar ninfetas. Nos anos 70, o fotógrafo inglês David Hamilton publicou inúmeros álbuns sobre o tema e no século 19 o também britânico Lewis Carrol, o autor de Alice no País das Maravilhas, fez trabalho semelhante. Na mesma época do lançamento de Anjos, meninas dançavam axé music nos programas de tevê em trajes sumários. "Isso não era considerado pornografia, era?", pergunta o fotógrafo, para quem a polêmica não foi de todo má. "O lado positivo: a popularização do meu nome, importante nessa profissão. O negativo: o estigma. Sou visto até hoje como um fotógrafo de mulheres." Embora rejeite o rótulo, Cabral confessa: membros do sexo feminino são mesmo as personagens preferidas de sua câmera. Em 1999 ele lançou Some Women/Algumas Mulheres, com retratos escolhidos entre os incontáveis que clicou. Bruna Lombardi, Sônia Braga, Adriane Galisteu, Ana Paula Arósio, Claudia Raia e Cristiana Oliveira são algumas das personalidades que aparecem no álbum, em imagens que ressaltam a feminilidade e a beleza. Cansado da profissão - Ninfetas ou não, as mulheres de todas as idades podem ter que despedir-se de seu retratista dos mais requisitados. O fotógrafo de garotas afirma estar um pouco cansado da função. "Não estou abandonando a carreira", diz, tendo em mão uma agenda que qualquer homem invejaria, cheia de telefones de beldades. "Mas estou adorando fazer cinema. Quero investir nisso, transformar minha produtora numa empresa de longas." Encerrado o trabalho em O Dono do Mar, o diretor de fotografia se prepara para filmar A Santa, também de Odorico Mendes, sobre Nossa Senhora da Aparecida. É essa a mulher que, em breve, irá estar na mira das lentes de Fábio Cabral.

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