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Anistia para Zé Celso

Hino Nacional em ritmo de bossa nova será executado hoje no Oficina

Por Beth Néspoli
Atualização:

No dia 22 de maio de 1974 o encenador, ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa foi abordado por homens armados que o encapuzaram, colocaram-no dentro de um carro e o levaram. Era mais uma prisão realizada durante o regime militar que tivera início com um golpe dez anos antes. Zé Celso foi levado para o Departamento de Ordem Política e Social, na região da Luz, onde passaria quase um mês. No Dops foi torturado. Passou pelo pau de arara e levou choques e golpes que lhe arrancaram alguns dentes. Depois foi jogado em uma solitária. Mais de três décadas depois, Zé Celso receberá autoridades do governo brasileiro ao som do Hino Nacional executado em ritmo de bossa nova em seu Teatro Oficina numa solenidade de celebração da democracia. Vestido num terno, ele será hoje, a partir das 14 h, o anfitrião da 35.ª Caravana da Anistia. Criada em 2001, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça tem como função analisar os requerimentos de pessoas que foram vítimas de perseguição política entre 1946 e 1988 (lei 10.559/2002). Desde abril de 2008, foi criada a Caravana da Anistia que aprecia processos em atos públicos, numa ação cultural de resgate de memória. A caravana já percorreu 17 Estados e apreciou publicamente mais de 800 processos. O educador Paulo Freire e o líder dos seringueiros Chico Mendes estão entre os já homenageados. Em ato inédito desde sua criação, a 35.ª Caravana da Anistia, que contará com a presença do ministro da Cultura Juca Ferreira, fará a apreciação apenas do processo do diretor Zé Celso, no Oficina, no seu 35.º ato público. Será também teatral e terá início às 14 h, no Oficina, seguido de apresentação gratuita do espetáculo O Banquete. Dezenas de artistas foram convidados. Zé Celso enviou requerimento de pedido de "indenização por prejuízos causados pela ditadura militar" no dia 8 de dezembro de 2004 à Comissão da Anistia, documento ao qual o Estado teve acesso (leia trecho ao lado), e será lido na íntegra pelo relator Prudente Mello hoje no palco do Oficina, mais especificamente no cenário de O Banquete, uma imensa mesa retangular que toma toda a pista do teatro. Nesse documento, Zé Celso relata sua prisão e a de companheiros de teatro, a tortura, os obstáculos à continuidade do Oficina impostos no período por meio de censura aos textos ou interdições às encenações, o exílio de cinco anos, o incêndio destruidor no teatro. Relata com detalhes a difícil passagem dos tempos de resistência obscura, período em que ganhou a alcunha de decano do ócio, aos novos tempos de "re-Existência", a partir dos anos 90, quando efetivamente conseguiu retomar sua arte em plenitude, na criação de espetáculos como Bacantes, Cacilda! e Os Sertões. "A tortura tatua o corpo. Quem passou pela tortura vai combatê-la sempre", diz Zé Celso em vídeo que pode ser visto na TV Estadão, no qual fala sobre Direitos Humanos, tortura, liberdade, arte e política.Vídeo. Veja Zé Celso falando de direitos humanos

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