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Animação para maiores

Palestras, encontros e exibições marcam edição do Anima Mundi, que comemora aumento no número de inscritos

Por Flavia Guerra
Atualização:

"Entrar para o Oscar" não foi exatamente um pedido do Anima Mundi à Academia, mas fruto da história do festival - somada a uma boa recomendação de Ron Diamond e a uma movimentação política bem feita pelos seus diretores. "É um jogo político. Tivemos o apoio do Ron e de outras pessoas importantes. Não se pede oficialmente. É a Academia quem nos concede o direito", explica César Coelho, um dos criadores do Anima Mundi e conselheiro da Associação Brasileira de Cinema de Animação. Para Coelho, a entrada para o seleto grupo dos oscarizáveis (que inclui os festivais de Annecy, na França, Hiroshima, no Japão, e Tribeca, em Nova York) não só ajuda os animadores como também o festival. "É bom porque os estúdios ficam muito mais de olho no nosso evento, que ganha mais inscrições e, ao que tudo indica, mais filmes de qualidade. Este ano já tivemos aumento no número de inscritos. Em 2011, foram 1.500. Este ano, foram mais de 1.600 filmes, incluindo curtas e longas. E um deles sairá daqui com o direito de tentar uma vaga no Oscar." Por falar nisso, o primeiro detentor deste direito é Head Over Hills (De Pernas para o Ar), do britânico Tim Reckart. Além de levar o prêmio de melhor curta de estudante, levou também o de Melhor Curta Metragem da edição carioca do festival. Em São Paulo, o filme tem sessão no programa Curtas 7, na quinta, às 18h, no Memorial da América Latina. Se o número de inscritos aumentou, o de público não ficou atrás. Ano passado, só no Rio, 54.815 pessoas compareceram às atividades. Neste ano, já foram 68.338. "Isso porque o festival está no meio. Agora começa em São Paulo e aí teremos o número fechado. Certamente será maior que no ano passado", diz Coelho. Filho Pródigo. Nestes 20 anos, o Anima Mundi também ajudou centenas de "animaníacos" brasileiros a fazer da animação não só uma arte como também uma profissão. É o caso de Marcelo Marão. Famoso por seu humor escrachado e seu traço tão característico, Marão já ganhou dezenas de prêmios em todo o mundo. Natural de Nilópolis, estreou quase todos seus filmes no Anima Mundi. Muito por conta disso, é o animador brasileiro homenageado desta edição. É dele o Papo Animado da sexta, às 19h, no Memorial. "Se consigo viver, comprar comida e roupa hoje com animação, é porque devo muito ao festival", comentou o diretor, que atualmente prepara um longa-metragem.Sara Cox. Outra convidado internacional deste ano é Sarah Cox. Interessante observar como a presença de Sarah se faz notar justamente no ano em que a entrada para o Oscar é o grande destaque do Anima Mundi. Tudo porque Sarah, que já integrou projetos no conceituado estúdio Aardman (de Fuga das Galinhas), defende com veemência a maior presença de animações não americanas no circuito internacional. Para ela, que dirigiu há pouco The Itch of the Golden Nit (A Coceira da Lêndea Dourada), que tem sessão hors-concours na categoria Infantil, deveria haver muito mais espaço no mercado para longas animados não americanos. "É uma pena que a linguagem dos filmes para crianças, desde que a Disney fez Branca de Neve em 1937, seja sempre esta americana. E isso contaminou de tal forma o formato que até filmes de outros países acabam tendo esta visão e formato", comentou ela em seu Papo Animado no Rio, na semana passada. Em São Paulo, o Papo ocorre na sexta, às 21h, no Memorial. Sarah, que há dez anos fundou com a colega Sally Arthur o estúdio ArthurCox para produzir seus projetos autorais, irá mostrar um pouco de seu trabalho. Incluindo The Itch of the Golden Nit, cujo ponto de partida foi um projeto aberto à comunidade do Reino Unido e desenvolvido pela Tate. O filme foi criado coletivamente com a colaboração de 34 mil crianças britânicas que, via internet e com mediação de animadores, desenharam personagens e conduziram enredo, roteiro e música. "O processo todo, da concepção ao produto final, levou seis anos, mas valeu a pena." Ensinamentos. Outro destaque da obra de Sarah, é John and Karen. Produzido por ela e dirigido por Matthew Walker, revela de forma inusitada uma discussão de casal. John pede desculpas à Karen enquanto eles tomam chá com bolacha. O detalhe é que John é um urso polar e Karen, uma pinguim. "Não é genial esta ideia? Tão simples! Valeria ao menos uma indicação, se não, o Oscar. Mas sabe porque não venceu? Porque o diretor esqueceu de se inscrever! São coisas assim que eu vim ensinar. Se você tem um curta bom, think Oscar!", comenta Ron Diamond sobre o trabalho de Sarah e Walker, que integra o Think Oscar®! 4, no domingo, às 16h30. A lista de filmes e convidados deste ano é tamanha que só mesmo conferindo os destaques dia a dia é possível tratar de todos. Mas para os que chegam agora ao mundo animado, o festival também preparou uma seleção com os 20 filmes vencedores ao longo dos anos. Vale lembrar que até 2011, o vencedor do festival era anunciado em São Paulo, mas este ano passou a ser no Rio. Na edição paulista, o júri popular escolhe agora seus favoritos, que serão anunciados no domingo.

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