Angela de Barros encarna presidiária

A Cela enfoca a experiência intensa e verdadeira de uma presidiária que ganha a liberdade após 16 anos no cárcere

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Por Agencia Estado
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Embora não se conheçam, há algo em comum entre o médico brasileiro Drauzio Varella, autor do livro Estação Carandiru, e o dramaturgo francês Michel Azama. Ambos conviveram com presidiários e criaram seus textos a partir de uma experiência intensa e verdadeira. Azama é autor do monólogo A Cela, que estréia amanhã na Sala B do Teatro Alfa, dirigido pelo também francês Jean-Jacques Mutin e interpretado pela atriz brasileira Angela Barros. Com tradução de Edson Rodrigues, A Cela flagra uma mulher na véspera de ser liberta, após 16 anos de prisão. Sozinha, ela está dividida entre o desejo de liberdade e o pânico diante da sempre difícil reinserção social. "As estatísticas comprovam que a maioria dos suicídios entre presidiárias ocorre nos meses que antecedem o fim da pena", comentou Azama em entrevista à reportagem durante os ensaios da peça. O texto nasceu de uma oficina dirigida por Azama num dos maiores presídios femininos da França, situado em Rennes, no norte do país. "Nada do que está na peça foi inventado, o que fiz foi dar forma teatral a depoimentos reais", afirmou. "Chorei muito na primeira leitura do texto", comenta Angela. "A emoção inicial é comum e até positiva, mas depois, a atriz precisa eliminá-la, porque a peça nada pode ter de melodramática", comenta o diretor Mutin. "O público deve emocionar-se, não a atriz, que precisa de domínio técnico", argumenta o rigoroso diretor. Na véspera de sair em liberdade, nada mais natural que a personagem faça um balanço de sua vida na prisão e antes dela, além de projeções do futuro. "É um texto fascinante para uma atriz, porque são muitos sentimentos envolvidos e passa-se do riso ao choro num simples movimento de corpo", observa Angela. Azama afirma não ter como único objetivo comover ou sensibilizar as pessoas para a vida das presidiárias. "Desejaria que cada espectador saísse do teatro pensando sobre o que está fazendo de sua preciosa liberdade". Esta é a primeira montagem de um texto de Azama no Brasil, que já teve mais de uma peça encenada em países latino-americanos como Colômbia, Chile e Argentina, chegando mesmo a ter adotado três crianças colombianas, que hoje vivem com ele em Paris. "Fiquei profundamente impressionado com a miséria na Colômbia", contou Azama. Apaixonado pelo Brasil, o diretor Mutin vem lutando há algum tempo pela montagem e publicação de textos de alguns autores franceses contemporêneos. "Não fiz uma escolha aleatória; são autores, como Azama, cuja dramaturgia aborda problemas comuns entre franceses e brasileiros", diz. A Cela. Drama. De Michel Azama. Direção Jean-Jacques Mutin. Com Angela Barros. Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 18h. R$ 25. Teatro Alfa - Sala B. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000. Até 25/6

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