Andreatto mira novas formas do amor

PUBLICIDADE

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Roland Barthes, o grande nome da crítica literária francesa do século passado, escreveu uma vez que não existe assunto tão démodé quanto o amor. Falado por todos, o discurso amoroso não seria sustentado por ninguém. Muito menos pela intelectualidade, que o mantém diminuído, alijado de sua esfera de interesses.Com Deficra-te ou Me Devora, peça que entra em cartaz amanhã no MiniTeatro, Elias Andreatto segue um pouco na contramão dessa corrente. Não examina propriamente uma relação amorosa específica - ou o inescapável torvelinho em que se envolvem todos os amantes -, mas mira reflexões sobre o tema. No texto, escrito com as colaborações dos atores Helô Cintra e João Paulo Lorenzon, Andreatto vale-se de um procedimento que já havia aplicado anteriormente. Algo bastante semelhante à estrutura que se viu no recente Doido (espetáculo em que tratava de sua condição de ator) e também em Van Gogh - O Atleta do Coração, montagem de 2003. A partir da colagem de textos - de poetas como Jean Tardieu ou Cacaso - a encenação ergue uma fábula sobre as relações em nossos tempos. "Para tratar dessa espécie de desespero trágico da solidão que as pessoas experimentam hoje", comenta Andreatto. O cenário do espetáculo resume-se a uma cama. É ali que os intérpretes irão encarnar dois desconhecidos que se procuram por mecanismos virtuais. Em sua busca pelo outro, valem-se de computadores portáteis e celulares. Parecem armar-se de escudo e espada para a batalha - invariavelmente sangrenta e feroz - na qual se lançam com volúpia. "A impressão é que aquilo que seria o nosso romantismo clássico passa agora por aí, por esse veículo em que as pessoas se observam e se expõem", lembra o diretor. Ainda que não exista propriamente uma trama a ser seguida, Decifra-te ou Me Devora acena com alguma linearidade. Passada a caça, há o período em que os amantes postergam o encontro. Temem revelar aquilo que são propriamente, para além da imagem edulcorada que possam ter entregado. Receiam a decepção, de deparar-se com uma alteridade que em nada se aproxima da fantasia que construíram. DECIFRA-TE OU ME DEVORAMiniteatro. Praça Franklin Roosevelt, 108, Centro, 2865-5955. Sáb., às 21 h; dom., às 19 h. R$ 30. Até 3/4.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.