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Andréa Beltrão, sob medida

Atriz encontra o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia para viver uma matemática genial na peça A Prova, em cartaz em SP

Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma das cenas mais tensas da peça A Prova, Catherine, que herdou do pai esquizofrênico a genialidade na matemática, discute com um ex-aluno dele, Hal, sobre a elaboração de uma teoria revolucionária. O rapaz desconfia da capacidade da moça em construir um projeto tão fenomenal. "Esse trabalho é de um nível muito elevado", afirma Hal. E, quando Catherine rebate ("Muito elevado para você"), a platéia que vem lotando o teatro da Faap rompe o silêncio e apóia ostensivamente a moça. Mais que um incômodo, a reação espontânea do público surge como um aplauso em cena aberta para Andréa Beltrão, que interpreta a genial matemática. Não são apenas os espectadores que reconhecem a cada noite de atuação a qualidade do trabalho de Andréa, que construiu uma personagem rica em emoções e conflitos, além de esbanjar humanidade - ela também recebeu o Prêmio Shell de melhor atriz, ao lado de Aderbal Freire-Filho, eleito o melhor diretor pela mesma peça. Um reconhecimento pelo trabalho em que Andréa consegue o equilíbrio perfeito entre o drama (gênero em que vem se aventurando com mais desenvoltura) e a comédia (sua especialidade). "Temia muito investir nesse tipo de trabalho, mas, depois de A Memória da Água, espetáculo em que evitei o papel cômico que naturalmente seria meu, a coragem surgiu", comenta a atriz, lembrando ainda a cumplicidade com os diretores com quem trabalhou nos últimos espetáculos, seja Freire-Filho agora em A Prova, seja Felipe Hirsch, em A Memória da Água. O desafio era o mesmo: aos 39 anos, Andréa buscava a diversidade artística, o que orientou sua escolha de textos teatrais com ênfase no drama. Com Hirsch, por exemplo, ela teve ajuda para bordar o papel de Maria, uma das três irmãs que se reúnem para o enterro da mãe. Mulher inteligente e fria, ela tem total controle da vida profissional como médica, mas nenhum no aspecto pessoal. "Felipe me chamou e pediu para eu fazer o papel que queria", lembra. "A atitude, mais que um fardo, foi um voto de confiança que me deixou mais tranqüila." A boa aceitação de público e crítica incentivou-a a participar de outro desafio. A Prova revela a angústia de Catherine, que não sabe o que realmente herdou do pai: a genialidade na matemática, a esquizofrenia ou ambos. O autor, David Auburn, segue a tradição realista do teatro americano e usa a ciência para explorar as relações entre pais e filhos. "No início, quase recusei o papel, pois não entendo nada de matemática", conta Andréa. "Mas, já na terceira página fiquei fascinada, pois a ciência é utilizada para revelar a incomunicabilidade entre as pessoas." A primeira medida foi humanizar a matemática, ou seja, permitir que os personagens falassem de termos complicados como cálculos exponenciais ou números primos sem aterrorizar o público. Os diálogos surgem secos, cortantes, criando um clima de tensão psicológica. Junto dos demais atores (José de Abreu, Gisele Fróes e Emílio de Mello), Andréa surpreende principalmente ao modular sua poderosa voz, cujo manejo permite tanto criar uma cena cômica como uma dramática. Com isso, ela consegue, com extrema rapidez, alternar uma e outra, surpreendendo o público. A atriz observa, porém, que não pensou em usar sua atuação como mostra de uma alteração na carreira. "Nunca me passou pela cabeça provar qualquer coisa, especialmente apagar alguma imagem que construí na televisão." Zelda - Andréa, de fato, ainda é lembrada pelo público pelos papéis cômicos, especialmente por Zelda Scott, seu personagem no seriado Armação Ilimitada, exibida com sucesso pela Globo nos anos 80. "Na rua, ainda me chamam de Zelda", conta ela, que, ao contrário de carregar um fardo, se diverte com a marca. "Entendo isso como uma manifestação de carinho por ainda estar na lembrança de muitas pessoas." Mas sua disposição em mostrar novas faces do talento persiste. Não bastassem as atividades no teatro e na televisão, Andréa estende seu talento para o cinema ao rodar, até o fim do ano, o filme Inferno Colorido, primeiro longa dirigido por Maurício Farias, marido da atriz e pai de seus três filhos. Trata-se de um roteiro que está pronto há sete anos. Ao lado de Daniel Dantas, com quem contracenou em Dicionário Amoroso, Andréa vai viver uma golpista que quer subir na vida a todo custo. "Acompanhei todo o processo de criação e conheço muito bem o papel", conta a atriz, exibindo, enfim, sua versatilidade. A Prova ? De David Auburn. Dir. Aderbal Freire-Filho. Com Andréa Beltrão, José de Abreu, Emilio de Mello e Gisele Froes. Dur. 2h. 6.ª e sáb., às 21h; dom., às 18h. R$ 40,00 e R$ 45,00 (sáb.). Teatro Faap (R. Alagoas, 903. 3662-7233). Até 13/7. Desc. 20% p/ ass. e acomp.

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