Desconfio que não usaram a analogia mais óbvia, com métodos fascistas, porque “fascista” foi vulgarizado como xingamento político entre nós. Esquerda e direita se acusam mutuamente de fascismo, tanto que a palavra perdeu todo sentido. De qualquer maneira, o manifesto dos advogados não precisava ir tão longe para buscar um exemplo de arbitrariedade e descaso por direitos legais. Tinham exemplos bem mais próximos, no tempo e no espaço.
Carnaval. Eu ia começar este parágrafo com a frase “No meu tempo...”, mas me contive: nada espanta leitores como começar um parágrafo com “no meu tempo”. Mas a proximidade do carnaval me fez pensar no tempo em que todos os anos, por esta época, já se conheciam as músicas “de carnaval” novas. A maioria das músicas tinha vida efêmera, eram cantadas no carnaval do ano e depois esquecidas, mas algumas ficavam e se tornavam clássicas. E me lembro de quando as músicas de carnaval começaram a perder sua inocência. Até então, nenhuma letra “de carnaval” tinha duplo sentido, a não ser que você descobrisse alguma alusão escondida no Pirata da Perna de Pau. E, então, não me lembro se no mesmo ano - me acuda, Ruy Castro - apareceram duas marchinhas seminais, que mudaram tudo. Uma era a Índio Quer Apito, baseada numa anedota safada. E a outra tinha o seguinte refrão: “Não importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar”. Não entendi o que a letra significava, mas não tive a menor duvida de que era bandalheira. Ainda não sei bem o que é rosetar, mas sei que cada vez se roseta mais no carnaval.