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Análise: Narrativas de Elmore Leonard constroem-se a partir dos diálogos

Em uma passagem de No Inferno, de George Pelecanos, alguém fala com entusiasmo dos livros de Elmore Leonard. A citação não é gratuita. Pelecanos é um dos inúmeros autores policiais para quem Leonard, mais do que uma referência, é um modelo. Dele, direta ou indiretamente, serviram-se escritores como Dennis Lehane e cineastas como Quentin Tarantino.

Por André de Leones
Atualização:

O estilo ancorado nos diálogos, sem espaço para digressões e com uso brilhante da ironia fez escola. Aliás, por falar em ironia, o personagem de Pelecanos diz preferir os westerns que Leonard escreveu no início da carreira. É uma brincadeira e não é, uma vez que Hombre, de 1961, é tido como um dos melhores livros do gênero.

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No entanto, ele mostrou mesmo a que veio com suas narrativas criminais povoadas por ladrões de banco (Os Comparsas), traficantes (Cuba Libre), gângsteres metidos no show business (Nada a Perder), guerrilheiros nicaraguenses (Bandidos) e piratas somalis (Djibout). Muitos de seus livros foram transformados em filmes de sucesso – podemos citar Hombre, com Paul Newman, Get Shorty, adaptado por Barry Sonnenfeld, e Irresistível Paixão, um dos poucos trabalhos felizes do insosso Steven Soderbergh.

Em vez de esboçar grandes arcos narrativos, ele preferia partir de personagens e situações isoladas e ver no que ia dar. Assim, é natural que os diálogos sejam tão importantes e funcionem como fios condutores da ação. Da mesma forma, a imprevisibilidade dos enredos deve muito a esse modus operandi: quando nem o autor sabe como a história vai terminar, o mais provável é que todos nos surpreendamos com as reviravoltas e que elas não pareçam forçadas.

Olhando a obra que Leonard nos deixou, com mais de quarenta romances, é difícil não se impressionar com o trabalho de alguém que não se considerava um “escritor sério”, embora, com sua ironia habitual, fizesse questão de ressaltar que escrevia seriamente.

ANDRÉ DE LEONES É AUTOR DE TERRA DE CASAS VAZIAS

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