Análise: artistas concretos já criavam padrões da modernidade em 1950

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Por Antonio Gonçalves Filho
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Nos anos 1950, quando a Rhodia tentou introduzir no mercado brasileiro fibras têxteis sintéticas, a reação do mercado foi das mais conservadoras. O Brasil usava roupas de algodão e não vivia plenamente a modernidade. Foi preciso que artistas ligados ao concretismo dessem o primeiro passo para legitimar essas novidades, ao aceitar o desafio de adaptar para os novos tecidos o que faziam na tela. Dois grandes exemplos na mostra do Masp são Hércules Barsotti (1914-2010) e Willys de Castro (1926-1988), companheiros por mais de 50 anos, que criaram padrões modernos e desafiadores para a época. Barsotti e Willys se uniriam ao grupo neoconcreto carioca, uma dissidência do concreto paulista, liderado por Waldemar Cordeiro.

Os neoconcretos não defendiam os mesmos princípios de rigor formal dos concretos, mas estreitaram os laços com a sociedade industrial, sendo flexíveis com relação ao uso da cor (os concretos, austeros, se inclinavam para o preto e branco). Barsotti e Willys, ambos químicos de formação, conheciam como poucos artistas os processos de fabricação da cor e dominavam o vocabulário gráfico (eles criaram, em 1954, um escritório de design). Barsotti chegou a ser premiado em 1967 num concurso de padronagens têxteis.

Vestido de Hercules Barsotti / Foto:Eduardo Ortega/Divulgação Foto: Eduardo Ortega/Divulgação

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Dos modelos que integram o acervo do Masp, museu pioneiro também na promoção de desfiles de moda em São Paulo, muitos deles são assinados por artistas de tendência concreta, entre eles Hermelindo Fiaminghi (1920-2004), que, nos anos 1960, já pesquisava a relação cor-luz, explorando a questão da instabilidade de ambas em padrões ambíguos. A fusão e a difusão da cor pela incidência da luz já eram testadas em seus vestidos, de grande impacto visual.

Há, na mostra, outros artistas que, apesar de reconhecidos, não se deram tão bem com o universo têxtil, a despeito de sua experiência pictórica e do desenho fácil. É o caso de Carybé (1911-1997), artista de origem argentina mais ligado à ilustração e avesso à abstração geométrica, ao contrário de Fiaminghi. O padrão que criou para o vestido de Sonia Coutinho não se diferencia das figuras populares criadas para ilustrar os livros de Jorge Amado.

No entanto, ser adepto da linguagem figurativa nunca significou impedimento no mundo da moda. Nelson Leirner, que criou uma fantasia de carnaval recheada de zíperes para ser “despida” aos poucos, está presente na mostra com um vestido de cores vivas criado por Ugo Castellana com padrões abstratos. E ousados ainda em 2015.

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