Ana Paula Arósio estrela "Boneca" de Ibsen

A atriz interpreta a Nora de Casa de Bonecas, do dramaturgo norueguês Ibsen, com elenco global e direção de Aderbal Freire-Filho, no Rio

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Por Agencia Estado
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O público que gosta de ver Ana Paula Arósio em figurinos de época vai encontrá-la mais uma vez como heroína pouco convencional. A partir de sexta-feira ela é Nora, protagonista da peça Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, que estréia na sala Marília Pera do Teatro do Leblon, no Rio. O elenco é recheado de estrelas de novelas da Globo (Floriano Peixoto, Marcos Winter, Sílvia Buarque e Michel Bercovich) e a ficha técnica tem nomes consagrados como o diretor Aderbal Freire-Filho, a carnavalesca Rosa Magalhães (que assina os figurinos), Tato Taborda (direção musical) e o português José Manoel Castanheira (cenário). Ana Paula namorava esse texto há anos e soube que Freire-Filho também estava trabalhando nele. "Achei a coincidência interessante e resolvemos nos unir", conta com uma tranqüilidade rara em vésperas de estréias. Ela sabe que Casa de Bonecas é um clássico e Nora teve grandes interpretações (Tônia Carrero, aqui no Brasil, e Jane Fonda, no cinema, por exemplo), mas não conferiu outros desempenhos para criar seu personagem. "Foi um pedido do Aderbal, que queria um trabalho só meu. As questões da personagem são atuais porque a gente conhece muitas mulheres como ela. Quanto a viver mais um personagem de época, é coincidência, embora eu ache que tenha mesmo cara de antigamente." Casa de Bonecas fez sucesso e causou escândalo desde sua estréia, na segunda metade do século 19, como um dos primeiros exemplos do teatro realista, que trocava situações românticas pelos conflitos sociais. Nora é uma mãe de família que, pressionada por um chantagista, acaba refletindo sobre a condição feminina e abandona o marido e os filhos, dentro da casa de bonecas do título. Apesar de haver boas traduções do texto para o português, Freire-Filho optou por uma nova versão, feita a quatro mãos com o dinamarquês Karl Schollharmmer, especialista no norueguês Ibsen. "Nossas traduções vêm do francês ou inglês e são de 40 anos atrás. Precisávamos adequar o texto original às necessidades de um espetáculo atual, mas a essência de Ibsen ficou. O que tiramos são referências a personagens e elementos de cena secundários e, no decorrer dos ensaios, adaptamos a linguagem aos dias de hoje", comenta o diretor. "Os três atos do original foram transformados em 15 cenas que resultaram em duas horas de espetáculo. Um tempo razoável para contar uma história como essa." Os ensaios começaram há dois meses e meio e o ambiente é de otimismo e camaradagem. É fácil entender a cumplicidade de Ana Paula Arósio e Sílvia Buarque que, em cena, são amigas de infância e confidentes, embora mulheres com histórias diferentes. O comprometimento dos atores com uma peça que enfatiza as personagens femininas pode ser explicado por Floriano Peixoto, que faz o chantagista Krogstag. "Não existe um personagem menor ou mais fraco para quem se dedica a ele. Não trocaria o meu por nenhum outro da peça e acho que o grande barato do ator é exatamente descobrir e valorizar o seu papel", ensina ele. Winter, entre sério e brincalhão, lembra que tanto as mulheres quanto os homens de hoje lembram os criados por Ibsen. "Hoje, os homens estão ficando cada vez mais burros e as mulheres, mais neuróticas." Apesar de Ibsen ser um dos melhores exemplos do teatro realista, que ninguém espere encontrar uma cena convencional. "Meu cenário é uma metáfora do espetáculo", adverte Castanheira, que trabalha no Brasil pela primeira vez. "Conheci Aderbal no ano passado, quando ele dirigia no Teatro Nacional da Espanha o espetáculo Cruzada dos Meninos de Rua, escrito por vários autores latino-americanos, e logo quis associar-me a ele. Essa experiência no Brasil é excelente porque convivo com outra forma de trabalho, mas com profissionais de alto nível e muito dedicados." Rosa Magalhães, que começou nas artes cênicas, é mais conhecida hoje como carnavalesca (é tricampeã do sambódromo, pois sua escola, a Imperatriz Leopoldinense, venceu os três últimos desfiles do grupo especial). Ela compara os dois tipos de criação e acha que elaborar figurinos para cinco personagens é mais difícil que vestir 5 mil componentes de uma escola de samba. "Aqui, ninguém vem ver a roupa, que é um acessório para os atores. Deve servir a eles, ser funcional e não pode rasgar, perder o brilho ou mesmo dificultar seu desempenho", teoriza Rosa, cujo último figurino para teatro foi do musical Chiquinha Gonzaga, há três anos. "Além disso, enquanto a escola só sai um dia, o figurino aqui tem de durar muito, porque a peça terá carreira longa." Casa de Bonecas foi produzida pela própria Ana Paula Arósio que deu um tempo na televisão enquanto preparava o espetáculo. Ela não revela o orçamento da montagem, que tem patrocínio da Embratel, por meio da Lei Rouanet. E, mesmo sendo garota-propaganda da ex-estatal, garante que não teve facilidades para conseguir o dinheiro necessário para a produção. "É claro que já havia um bom relacionamento com a empresa, mas são negócios diferentes", lembra Ana Paula, que geralmente produz seus espetáculos. "É a forma de fazer o que quero, cercada das pessoas que escolho. É claro que há espetáculos que gostaria de representar, sem produzir, mas aí teria de me contentar com o que me oferecem e não viver os personagens que me atraem, como a Nora."

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