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Ana Botafogo aceita presidir Municipal do Rio, mas só com salários de todos em dia

Ela também pediu garantia de que haverá recursos para a realização da temporada artística de 2018 e para a manutenção do prédio histórico da Cinelândia

Por Roberta Pennafort
Atualização:
Ana Botafogo em protesto contra salários atrasados no Teatro Municipal do Rio Foto: Fábio Motta/Estadão

Ana Botafogo aceitou o convite da Secretaria de Cultura do Estado do Rio para assumir a presidência do Teatro Municipal, que vive sua pior crise em 108 anos de história. Mas impôs como condições, a serem cumpridas até 1º de março de 2018, a regularização dos quatro salários atrasados de todos os servidores da ativa da casa, aposentados e pensionistas, além da garantia de que haverá recursos para a realização da temporada artística de 2018 e para a manutenção do prédio histórico da Cinelândia. Só assim ela assumirá as funções, atualmente exercidas por um interino.

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Em uma carta aberta ao corpo funcional divulgada nesta sexta-feira, 22, Ana, que trabalha no teatro há 37 anos e vem sendo uma voz protagonista na luta dos corpos artísticos pelos pagamentos, disse que não fugirá “ao chamado das artes”. “Tenho planos e anseios, de médio e longo prazos, para desenvolver um trabalho que dignifique nossa arte, nossa cultura, nosso teatro e, principalmente, nossos artistas” e que assumir é uma “tarefa difícil, talvez uma luta, quase inglória, contra moinhos.”

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Ana narrou na carta sua relação de afeto com o teatro, do qual é, hoje, diretora do balé, ao lado da primeira bailarina Cecilia Kerche. “Neste teatro, deixei meu suor e minha emoção a cada temporada, a cada ensaio e a cada dia. Não foram poucos dias, foram décadas, foram 37 anos de profunda devoção, profissionalismo e paixão”, escreveu.

“Em seu palco, emocionei-me inúmeras vezes, enfrentando dores e desafios. Deixei, junto com vocês, meus colegas, um pouco de mim em cada pedacinho deste palco. Com dignidade, levamos, orgulhosamente, ao público, nossa maior riqueza: nossa arte. Receber o convite para a presidência desta casa é coroar uma vida a ela dedicada e um grande motivo de orgulho; não escondo minha felicidade”, continuou.

Ana impôs outras condições: a garantia de recursos para a contratação de pessoal por meio de contratos de longo prazo e total autonomia para a escolha de sua equipe, “sem interferência política de qualquer natureza”. 

No último protesto no Municipal, na segunda-feira, 18, pelo pagamento dos atrasados, Ana disse à reportagem que preferia que o convite tivesse vindo nos anos em que a situação no teatro era estável. Seu nome foi pedido em coro pelos funcionários e também pelo público que endossava o ato.

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Nesta sexta-feira, os funcionários comemoraram a carta. "Ana é o símbolo do teatro. A trajetória dela mostra que está preparada para assumir. Neste momento de crise, só um nome como o dela para acalmar os ânimos. As exigências que ela fez qualquer um de nós faria. É como se fosse a Fernanda Montenegro da dança. Acho que o governador vai aceitar. Praticamente há uma unanimidade em torno dela. Tem projeção internacional, então pode conseguir verbas para o teatro de outra forma", acredita o representante dos servidores Pedro Olivero, do coro do teatro.

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Na carta, a bailarina deixou claro que só assume se as exigências forem aceitas, e terminou dizendo que conta com a colaboração dos artistas e funcionários para que o teatro seja recolocado “no mais elevado degrau das artes do nosso País.”

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O secretário de Cultura interino, Leandro Monteiro, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “julga justas as condições da Ana” e que “está fazendo seu melhor” junto ao governo Luiz Fernando Pezão (PMDB) para que seja possível cumpri-las. O governo está em crise há dois anos e desde então vem atrasando salários de todo o funcionalismo, inclusive os do Municipal.

Monteiro é coronel do Corpo de Bombeiros. Substitui na pasta André Lazaroni, secretário exonerado que é deputado estadual pelo PMDB, e que voltou à Assembleia Legislativa do Rio para votar conforme determinações de seu partido em matérias polêmicas. Lazaroni, que assumiu em fevereiro deste ano, vinha acumulando a função de secretário com a de presidente da Fundação Teatro Municipal.

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