
01 de dezembro de 2011 | 03h08
Lone Scherfig ainda trabalhava em Educação quando começaram as negociações para que dirigisse Um Dia. "O livro de David Nicholl já surgira e estava sendo comentado, mas só depois virou um fenômeno entre o público jovem", informa a diretora, numa entrevista por telefone. Educação ganhou as indicações para o Oscar - melhor filme, roteiro adaptado e atriz, Carey Mulligan -, Lone somou o público a seu prestígio de crítica, mas pipocaram na internet críticas à escolha de Anne Hathaway para ser a protagonista de Um Dia. Um bom ponto para se iniciar a conversa.
Anne e Jim Sturgess formam uma bela dupla, mas ela foi muito criticada. Por que?
Há algo de muito especial entre eles. É mais que relação profissional e menos que amor, no sentido físico. Ambos se integraram perfeitamente, dando-se as réplicas com musicalidade. Me lembram um par de músicos, pela afinidade e sensibilidade. Mais que Anne, eu fui criticada. Não me perdoavam por tê-la colocado no papel de uma inglesa. Mas Anne já havia feito outra inglesa. E, no final, o que importa é que Jim e ela foram intensos.
Como o filme precedente, Um Dia trata da educação sentimental de dois jovens. Concorda?
Todos os meus filmes tratam desse tema. Meus personagens começam analfabetos, em termos de sentimentos, e aprendem, às vezes com grande dificuldade ou sofrimento. Em Um Dia me atraía a ideia de contar um romance que nasce com a ambição de se transformar na clássica história de amor.
Foi difícil acompanhar os personagens escolhendo apenas um dia, 15 de julho, por 20 anos?
A logística foi complicada, mas minha intenção era não chamar a atenção do público. Cada dia, de cada um destes anos, implicava pesquisas de objetos, figurinos, música, todo um trabalho de recriação de época. Busquei a simplificação. Nada de ostentar.
Stanley Kubrick dizia que, num filme, a montagem é o mais importante, mas que nem ela evita o desastre, se a coisa for malfeita. Tive a impressão de que o fato de você começar o filme pelo fim é uma solução de montagem, e não roteiro. O que me diz?
Que você acertou. Kubrick tem razão quanto à montagem, mas, no meu caso, ela salvou. O próprio Nicholl fez a adaptação de seu livro. O roteiro era linear e eu achei que o desfecho, por ser tão dramático, podia derrubar o espectador e cortar o cordão umbilical que o prendia à narrativa. Por isso, comecei pelo fim. A cena, quando volta, meio que prepara o espectador.
Você começou no Dogma. Como viu a polêmica sobre o pretenso nazismo de Lars Von Trier, deflagrada em Cannes?
Continuamos todos muito ligados, mesmo percorrendo caminhos diversos. Lars não é nazista, mas fala mais que a boca e não tem medidas. Só espero que isso não prejudique a avaliação de Melancolia, que me parece um belíssimo filme.
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