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Amores difíceis

Cineasta Lone Scherfig comenta sobre a adaptação do livro cult de David Nicholl em Um Dia

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Lone Scherfig ainda trabalhava em Educação quando começaram as negociações para que dirigisse Um Dia. "O livro de David Nicholl já surgira e estava sendo comentado, mas só depois virou um fenômeno entre o público jovem", informa a diretora, numa entrevista por telefone. Educação ganhou as indicações para o Oscar - melhor filme, roteiro adaptado e atriz, Carey Mulligan -, Lone somou o público a seu prestígio de crítica, mas pipocaram na internet críticas à escolha de Anne Hathaway para ser a protagonista de Um Dia. Um bom ponto para se iniciar a conversa.Anne e Jim Sturgess formam uma bela dupla, mas ela foi muito criticada. Por que?Há algo de muito especial entre eles. É mais que relação profissional e menos que amor, no sentido físico. Ambos se integraram perfeitamente, dando-se as réplicas com musicalidade. Me lembram um par de músicos, pela afinidade e sensibilidade. Mais que Anne, eu fui criticada. Não me perdoavam por tê-la colocado no papel de uma inglesa. Mas Anne já havia feito outra inglesa. E, no final, o que importa é que Jim e ela foram intensos. Como o filme precedente, Um Dia trata da educação sentimental de dois jovens. Concorda?Todos os meus filmes tratam desse tema. Meus personagens começam analfabetos, em termos de sentimentos, e aprendem, às vezes com grande dificuldade ou sofrimento. Em Um Dia me atraía a ideia de contar um romance que nasce com a ambição de se transformar na clássica história de amor.Foi difícil acompanhar os personagens escolhendo apenas um dia, 15 de julho, por 20 anos?A logística foi complicada, mas minha intenção era não chamar a atenção do público. Cada dia, de cada um destes anos, implicava pesquisas de objetos, figurinos, música, todo um trabalho de recriação de época. Busquei a simplificação. Nada de ostentar.Stanley Kubrick dizia que, num filme, a montagem é o mais importante, mas que nem ela evita o desastre, se a coisa for malfeita. Tive a impressão de que o fato de você começar o filme pelo fim é uma solução de montagem, e não roteiro. O que me diz?Que você acertou. Kubrick tem razão quanto à montagem, mas, no meu caso, ela salvou. O próprio Nicholl fez a adaptação de seu livro. O roteiro era linear e eu achei que o desfecho, por ser tão dramático, podia derrubar o espectador e cortar o cordão umbilical que o prendia à narrativa. Por isso, comecei pelo fim. A cena, quando volta, meio que prepara o espectador.Você começou no Dogma. Como viu a polêmica sobre o pretenso nazismo de Lars Von Trier, deflagrada em Cannes?Continuamos todos muito ligados, mesmo percorrendo caminhos diversos. Lars não é nazista, mas fala mais que a boca e não tem medidas. Só espero que isso não prejudique a avaliação de Melancolia, que me parece um belíssimo filme.

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