Amor inspira nova coreografia do Corpo

Rodrigos Pederneiras apresenta Santagustin, que tem música de Tom Zé e Gilberto Assis e chegará a São Paulo em 14 de agosto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Abra os olhos e veja a nova coreografia do Grupo Corpo, Santagustin, elaborada a partir da trilha sonora de Tom Zé e Gilberto Assis. Bailarinos a postos, casais abraçados movem-se lentamente embalados por ruídos de telefone, goteiras, campainha. Nada comum para a companhia. Uma bailarina move-se no meio deles, um símbolo dos desencontros amorosos. A música esquenta, a coreografia toma contornos sensuais, movimentos fortes, o vocabulário coreográfico desenvolvido por Rodrigo Pederneiras está em cena a todo vapor. A peça estréia no tradicional festival Jacobs´s Pillow, nos Estados Unidos, que começa na semana que vem. Santagustin chega ao Teatro Alfa, em São Paulo, no dia 14 de agosto. O programa conta, ainda, com Parabelo, primeira parceria com o músico Tom Zé. "Foi uma feliz coincidência; desde que decidimos estrear um novo trabalho a cada dois anos, por causa dos compromissos internacionais, apresentamos uma coreografia nova e uma antiga, do repertório. Este ano é a vez de Parabelo, diz Pederneiras. Ousadia - Santagustin, sem dúvida, é a mais sensual, ousada e bem-humorada coreografia do Grupo Corpo. Como ocorre desde 21, Pederneiras cria uma nova coreografia a partir de uma trilha sonora composta especialmente para a companhia. Tom Zé foi convidado a elaborar composições ligadas ao amor. "Queria rir do amor, descontar as situações rídículas em que ele nos coloca e também trabalhar todos os paradoxos que o cercam", diz Pederneiras em um entrevista coletiva à imprensa, na sede da companhia. Tom Zé compôs sete melodias, denominadas por ele choros populares. A trilha demorou um ano para ficar pronta e contou com a parceria de Gilberto Assis, músico fundamental no processo, que soube driblar as ferramentas tecnológicas. "Diante de algo diferente do gosto médio, o computador se recusa a executar qualquer coisa. Tinha as idéias, levava para o Gilberto, que passava o dia no estúdio arrumando meios de enganar a máquina, obtinha os resultados, repassava-os e à noite eu voltava à pesquisa", conta o músico. A composição contou com as vozes de Vange Milliet e Tetê Espíndola, além de instrumentos criados pelo próprio músico, como o hertzé, cornetinhas e apitos. Para elaborar a trilha, o compositor buscou inspiração nos ritmos nordestinos e na vida de Santo Agostinho _ um homem com uma vida desregrada, que chegou a ter um filho e, após se converter ao catolicismo, combateu ferrenhamente os comportamentos mundanos. "Santagustin" nada mais é do que o jeito mineiro de falar Santo Agostinho. A tensão está presente na dança de Pederneiras. Feminilidade ocupa um lugar de destaque nas composições. A situação da mulher, a forma como é tratada e como lida com a sua sexualidade mereceu atenção. "Todas as questões ligadas ao sexo feminino são tratadas de maneira chula, pejorativa, estereotipada e até mesmo grosseiramente. Como uma mulher pode se mostrar para alguém que só a agride? Quis rever essas questões e também resgatar um pouco do amor, tão esquecido atualmente." "Toda a culpa pelos resultados de Santagustin é do Tom Zé", brinca o cenógrafo Fernando Velloso. Pederneiras aglutinou essas idéias e traduziu-as em movimentos soltos, bem-humorados e até mesmo dramáticos. "Santagustin marca um momento de maturidade; aprendi com Tom Zé a rir das coisas, nesse clima que coreografei." Uma outra marca peculiar à nova coreografia está na participação dos bailarinos. Em alguns trechos, como na última música, brincando, os intérpretes sugeriram movimentos, gestos, e coube ao coreógrafo costurar as idéias. "Nunca a companhia participou tão ativamente no processo de criação." Paçoca - "Ao assistir, temos a impressão de estar em uma festa animada, em que todos querem dançar, não importa como e com quem", empolga-se o estilista Ronaldo Fraga, responsável pelos figurinos. As roupas ainda não foram definidas. "Estou embaixo de uma chuva de granizo", ri. "Tom Zé fez a música, Pederneiras transformou-a em movimento e cabe a mim dar uma forma. Sinto como se o Corpo estivesse virado do avesso. Não há como negar a sexualidade, não existe diferença entre feminino e masculino. Devo utilizar cores e elementos como a embalagem da paçoca Amor." Objetos-clichês, como uma almofada de pelúcia em forma de coração, serão utilizados como cenário, mas em um outro contexto. "O cenário conta com um caráter burlesco, melodramático, com certa dose de erotismo e de humor. Usamos imagens-clichês do cotidiano com formas e escalas diferentes", explica Velloso. O cenário obedece à coreografia e à música, um conjunto único, uma idéia só. O Grupo Corpo conta com patrocínio da Petrobrás. Obs. - A repórter viajou a convite do Grupo Corpo

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