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Amizade entre homem e cão será tema de peça de teatro

Luís Melo e Aderbal Freire-Filho preparam o espetáculo para estrear em julho em Curitiba

Por Agencia Estado
Atualização:

Muito explorada na literatura, raras vezes no teatro, a relação do homem com o seu cachorro vai tomar em breve o palco de um teatro curitibano. Há dois anos, o ator Luís Melo abriu na cidade o seu Ateliê de Pesquisa Teatral (ACT), já tendo em mente a criação de um espetáculo para falar do ser humano a partir dessa relação, cujo título provisório é O Homem e o Cão e tem estréia prevista para julho. Evidentemente, comprou o livro A Dificuldade de Ser Cão, de Roger Grenier, "assim que soube do lançamento", conta ele, mostrando seu exemplar cheio de trechos sublinhados. Desde o primeiro momento, para realizar a concepção do espetáculo, Melo convidou o diretor Aderbal Freire-Filho, que dirigiu recentemente a peça Sylvia, do americano A.R. Gurney ainda em cartaz no Rio, na qual a atriz Louise Cardoso "interpreta" uma cadela. A paixão do dono pela cadela provoca ciúmes na sua mulher e acaba por desestabilizar a relação. "Mas a montagem de Sylvia foi mera coincidência, não tem nenhuma relação com o convite de Melo, feito muito antes", garante o diretor, que é apaixonado por seu cachorro Tuí, nome tirado da peça O Congresso dos Intelectuais, de Bertolt Brecht. "Embora o cão esteja presente nas duas montagens, o tratamento dado a essa relação, em um e outro espetáculo, será muito diferente", antecipa Freire-Filho. "Sylvia é uma comédia inteligente, vivaz, no espírito das comédias românticas americanas. Fez muito sucesso no EUA, onde deu prêmios à atriz. O trabalho com Melo terá um caráter investigativo." Melo fundou o ACT com grandes ambições artísticas e a certeza de que precisaria de um longo tempo para realizá-las. Guardadas as devidas proporções, o seu galpão curitibano funciona nos moldes do Théâtre du Soleil, dirigido por Ariane Mnouchkine. Há araras com figurinos, tanques para tingimento e preparação de tecidos, biblioteca para pesquisas, um pequeno espaço cenotécnico. Jovens atores foram selecionados e convocados para um envolvimento profundo na criação. Há meses eles realizam, sob orientação de Melo, suas pesquisas e "experimentações" cênicas a partir do tema proposto - O Homem e o Cão. Parte desse trabalho pode ser percebida logo na primeira das salas do ACT. Pelas paredes, há muitas imagens de homens, mulheres e crianças com seus cães - ensaios fotográficos, reproduções de pinturas, gravuras e reportagens sobre o tema. "Estou tentando implantar aqui liberdade para formar mais que atores: artistas colaboradores. Eles estão absorvendo e desenvolvendo o tema em seus vários aspectos a partir dos mais diversos estímulos. São incentivados, a cada improvisação, a criar seus figurinos, trilha sonora, elementos cênicos e até mesmo textos", afirma Melo. São muitos os aspectos dessa relação já abordados nas improvisações. Entre outros, Melo fala da transferência de personalidade - há o cão doce e o cão raivoso -; do companheiro que compensa ou ameniza uma profunda solidão; da diferença entre o tratamento que adultos, velhos e crianças têm para com esse animal. "E há quem deteste cães. No grupo, os atores têm graus diferenciados de relação pessoal com o cão e essa diversidade também é importante." Um dos trechos do livro de Grenier sublinhado por Melo fala do prazer que Napoleão tinha em apreciar sua "obra". "Ele passeava pelos campos de batalha e a visão dos cadáveres não o incomodava. Mas a dor de um cão lambendo a mão de seu dono morto despertou sua emoção." Freire-Filho chega a Curitiba neste mês. "Vamos apresentar todo o material pesquisado a ele. Muito se pode desvendar do comportamento humano a partir dessa relação. Nossa ambição é construir um poema dramático que fale da condição humana." Melo, obviamente, estará no elenco.

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