Amigos lembram talento e força de Rachel

Os escritores Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Ziraldo, entre outros, falam da escritora e amiga assim como políticos como Ciro Gomes e Marta Suplicy

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Por Agencia Estado
Atualização:

O corpo da escritora Raquel de Queiroz está sendo velado na Academia Brasileira de Letras. O enterro da escritora foi adiado para amanhã para esperar parentes que vêm do Ceará. Grandes escritores brasileiros chegam ao velório ou lembram, de longe, a marca deixada por sua literatura e sua pessoa. Seis integrantes da guarda de fuzileiros navais da Marinha chegam para prestar homenagem a Rachel, que era madrinha da guarda. Carlos Heitor Cony, escritor: um dos primeiros a chegar ao velório de Rachel de Queiroz, no Salão dos Poetas Românticos da ABL, definiu a escritora como mulher extraordinária e disse que o livro O Quinze é um dos dez mais importantes da literatura brasileira. ?A literatura regional nasceu com Rachel de Queiroz sozinha, sem padrinhos, no sertão do Ceará?, disse. João Ubaldo Ribeiro, escritor: ?Tenho pouco a falar nessas horas. Só se pode lamentar. Ela já estava idosa, fraquinha, doente há algum tempo. Era uma figura de legada importância, não só como escritor (escritor não tem gênero), mas como mulher. Foi uma mulher adiante do seu tempo. Ainda mocinha escreveu um romance considerado um clássico, O Quinze, e a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras.Vai fazer falta.? Gilberto Gil, ministro da Cultura: "Desde o aparecimento de O Quinze, contundente romance regionalista e de cunho social, premiado pela Fundação Graça Aranha, Raquel prenunciava a renomada escritora que iria ser. Seu múltiplo talento abarcou a tradução, o teatro, bem como a literatura infantil e a crônica. Neste gênero, durante muitos anos, sua página na revista O Cruzeiro tornou-se leitura obrigatória. Primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, abriu as portas daquela instituição para outras romancistas. Com seu desaparecimento, a literatura e a cultura brasileiras ficam empobrecidas, restando-nos o consolo de sua obra imortal." Ciro Gomes, ministro da Integração Nacional: Perdi uma grande amiga.Aprendi a admirá-la a distância, ainda na adolescência, quando, nos bancos escolares de Sobral, li O Quinze. Alguns anos depois, conheci-a pessoalmente, e cresceu minha admiração. Mais tarde, nossa relação de amizade consolidou-se. Rachel foi uma escritora fantástica, uma nordestina cosmopolita e uma mente política arguta que quebrou tabus, inovou, pensou e escreveu sempre à frente do seu tempo. Luis Fernando Verissimo, escritor: ? Sinto muito. Conheci mais a Rachel cronista e era excelente, uma precurssora.? Ivan Junqueira,poeta e secretário-geral da ABL: ?Muita coisa convergia no destino dessa mulher. Primeiro, foi a verdadeira iniciadora do romance no Nordeste, muito mais do que os outros escritores da geração dela. Segundo, teve uma presença na vida pública intelectual muito intensa. Terceiro, é a primeira mulher na academia, rompendo com a tradição que vinha desde a criação da Casa de Machado de Assis. Foi uma figura marcante, a quem conheci pouco. Mas era de uma simpatia irradiante?. Ziraldo, cartunista:?Comecei minha vida sob a sombra dela, em O Cruzeiro. Quando lancei a revistinha do Pererê, ela fazia a última página do Cruzeiro. Um dia, fui ler a crônica dela e lá estava uma saudação ao surgimento da Revista do Pererê. Foi meu primeiro momento de glória. Tinha imenso carinho por ela. Ilustrei Cafuti e Pena de Prata (literatura infantil) e sempre prometi dar a ela os originais. Quando Rachel caiu da cadeira, e se machucou, telefonei e ela me cobrou os originais. Fiquei devendo. Agora vou levar para Maria Luiza. Ignácio de Loyola Brandão, escritor: Sigo Rachel desde a adolescência, quando ela escrevia crônicas para o Cruzeiro. E das crônicas passei a ler os livros, até perceber que ela era uma das fundadoras da literatura moderna. Não podia imaginar que um dia estaria junto dela no Caderno 2. Eu na sexta e ela no sábado. Ficava ansioso para ler seu texto, sempre lúcido e enxuto. Com certeza, uma parte do Loyola cronista devo à Rachel cronista. Nos últimos tempos comecei a sentir sua falta e soube que ela não estava em férias. Essa falta agora vai se eternizar.? Marta Suplicy, prefeita de São Paulo: ?Sertaneja das letras, a pioneira Rachel de Queiroz deixa de herança aos brasileiros a arte que lapidou as inquietações femininas, escancarou para o mundo as entranhas do País, seus costumes e sua gente. O passar dos anos não lhe tirou o humor nem deixou sua obra ultrapassada. Ao contrário, consolidou seu talento a cada geração de leitores por todos os tempos.? José Sarney, o presidente do Senado disse que ela marcou a história da literatura brasileira como uma figura de vanguarda, não só por renovar a ficção brasileira, com O Quinze, mas também por ter sido a primeira mulher a ingressar na ABL. A Rachel, sendo mulher, foi uma figura que renovou o romance. Politicamente, foi uma figura de denúncia. Era uma mulher muito forte?, afirmou Sarney. Depois de destacar a importância da escritora cearense na literatura, ele falou sobre a amizade entre os dois: ?Pessoalmente, sentia por ela uma amizade e um carinho muito grandes. Rachel era uma figura muito doce?. Alberto Costa e Silva, escritor e presidente da ABL: ?Rachel foi não apenas uma grande escritora como uma extraordinária mulher. Foi uma mulher forte, que teve influência excepcional sobre a vida brasileira durante o século 20. A minha geração lia Rachel de Queiroz pelo menos duas vezes por semana, no Diário de Notícia e no Cruzeiro. Com ela aprendemos a ver o Brasil e o mundo. Foi uma contestatária desde os anos estudantis, mas de forma independente. Pensava a partir de sua própria experiência pessoal ou próprios valores. Não sei que é maior, a extraordinária escritora ou a excepcional mulher que ela foi. .

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