Alinne Moraes estreia 'Doroteia', de Nelson Rodrigues

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Por AE
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O seu crime terrível era ser bela. A mais bela entre tantas feias. "Doroteia", peça que a atriz Alinne Moraes protagoniza a partir deste sábado, é um dos textos mais enigmáticos de Nelson Rodrigues. Aqui, o autor que completa 100 anos em 2012 continua a tratar de seus temas mais caros: o amor, a morte, a culpa que recobre o sexo. Ressalta, sobretudo, a maneira como a morte triunfa, invariavelmente, sobre o impulso vital. É inglória a tentativa de tentar resumir a trama desse texto, criação da fase mítica do autor. Grosso modo, estamos diante da busca de uma mulher bonita por redenção. Atravessada pela culpa, após a morte do filho, Doroteia tenta redimir-se de seu passado como prostituta. Quer ser disforme como as primas. Sentir, diante de um homem, a náusea que é característica das virtuosas da família desde tempos imemoriais. "Ela tenta se enquadrar, descobrir qual seria o seu lugar nesse universo da beleza, da cobiça dos homens", opina Alinne Moraes, que faz sua segunda incursão no teatro. Sua experiência anterior no palco foi em 2007.O mote da peça, em si irreal, aparece crivado por cenas ainda mais estranhas: um noivo representado apenas por um par de botas. Uma menina que morreu aos cinco meses, mas que, às vésperas do casamento, ainda não sabe que está morta. Há quem enxergue na ausência de verossimilhança dessas situações uma falha do dramaturgo. Não é o caso do diretor João Fonseca. "Vejo humor na obra do Nelson. É muito engraçado colocar uma personagem que se sente profundamente ofendida ao ser chamada de ''linda''", comenta ele. "Me identifico com essa carga de passionalidade, de exagero que há nos textos dele."Responsável por uma série de outras montagens do dramaturgo, Fonseca ressalta a excentricidade inerente à obra original elegendo homens para interpretar os papéis das três viúvas horrendas que açoitam Doroteia. "É uma maneira de ressaltar o teor masculino das figuras femininas", diz Gilberto Gawronski, que encarna a personagem D. Flávia. O ator também vê no enredo elementos para debater questões candentes do mundo contemporâneo. "O teatro continua a ser um fórum de discussão. São temas profundamente pertinentes ao nosso tempo. A questão da beleza, da ditadura da beleza." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.DOROTEIATeatro Raul Cortez (Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista). Telefone (011) 4003-1212. 6ª, 21h30; sáb., 21h; dom., 19h. R$ 60/ R$ 70. Até 14/10. Estreia sábado.

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