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Alfredo Bosi disputa hoje vaga na ABL

Por Agencia Estado
Atualização:

Hoje, a partir das 16 horas, a Academia Brasileira de Letras ganha novo imortal e tudo indica que o eleito será o crítico literário Alfredo Bosi, vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Ele concorre à vaga n.º 12, ocupada até setembro do ano passado pelo cardeal dom Luciano Moreira Neves. Há mais três candidatos: o escritor e roteirista José Louzeiro, a ensaísta Ieda Otaviano e a escritora-memorialista Laurita Mourão. Dos três, só Loureiro deve ter parte dos 38 votos nesse pleito. Além da cadeira de dom Luciano, está vaga a que era ocupada por Evandro Lins e Silva. Os imortais são discretos em suas preferências, pois o ritual da Casa de Machado de Assis exige que ninguém declare voto. Mas um deles adianta que a situação já está definida. "É fácil. Bosi conta com uns 30 votos", avisa. E o candidato, que mora em São Paulo, vai aguardar o resultado na casa do presidente da instituição, o poeta Alberto da Costa e Silva. Bosi tem 67 anos e uma carreira acadêmica. É formado em Letras Latinas pela USP, da qual é livre-docente desde 1970. No ano passado, lançou pela Companhia de Letras seu 13º livro: Literatura e Resistência. Já ganhou também o prêmio Jabuti, da ABL, em 1992, por seu livro Dialética da Colonização. Seu principal concorrente, Louzeiro, faz uma literatura popular. Ex-repórter policial, compara a eleição à ABL com a investigação caso misterioso. "Concorrer é como desvendar uma história policial, pois a gente tenta saber o que pensa gente muito culta e educada. Esse convívio é ótimo", elogia. Ele diz ter 12 votos prometidos e muita admiração pelos acadêmicos. "Sou amigo de todos eles, de longa data. Se não for eleito, vou cumprimentar o Bosi com o maior prazer porque ele é um intelectual muito importante. Nem sei por que estamos concorrendo. Acho que é o destino." A obra de Louzeiro é extensa, mais de 30 livros, roteiros de cinema e televisão. Foi repórter policial e adotou um gênero: acrescentou à investigação e exatidão dos fatos um estilo literário. Passou aos livros-reportagens que fizeram época e foram para o cinema, com roteiro dele. É o caso de Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia (sobre o bandido classe média dos anos 70), Aracelli, meu Amor (denunciando o assassinato de uma menina por rapazes da alta sociedade capixaba) e Infância dos Mortos, que depois virou o filme Pixote, a Lei do mais Fraco. Escreveu ainda novelas para a extinta "TV Manchete" (Corpo Santo e Guerra sem Fim são as mais conhecidas) e para a "Globo" (Gente Fina). "Em outra ocasião, Louzeiro seria o candidato ideal, pois une estilo, competência e sabe como agradar ao público. Mas agora é a vez de entrar alguém ligado ao mundo acadêmico", explicou outro imortal que foi cabo eleitoral, quase confesso, de Paulo Coelho, o mais jovem e recente eleito. "A pluralidade da Academia será mantida se ele se candidatar numa próxima oportunidade." Mas ele terá que esperar vaga na imortalidade. A que foi ocupada pelo jurista Evandro Lins e Silva até dezembro do ano passado deve ser preenchida por uma mulher, a escritora Ana Maria Machado ou a arqueóloga Maria Beltrão. Elas são as mais cotadas entre os 12 inscritos para a eleição que ocorre em 24 de abril. Correndo por fora, há pelo menos dois candidatos de peso que podem embolar a escolha: o escritor Fábio Konder Comparato e o professor de literatura e crítico literário Antônio Carlos Secchin. "Está tão equilibrado que é capaz de haver mais de um pleito em abril", calcula um terceiro acadêmico, explicando que se um candidato não obtém metade dos votos válidos em quatro escrutínios, a eleição é cancelada e todo o processo recomeça. "Esses quatro candidatos merecem a Academia, que precisa deles. Mas, se houver disputa entre as duas Marias, será a literatura de ficção contra a literatura científica. Ambas se completam e se precisam."

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