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"Alento" narra as últimas 24 horas de uma favelada

A peça estréia sexta num casarão que será demolido em breve, contando a história de uma mulher que invade uma casa abandonada com sua filha para não viver mais numa favela

Por Agencia Estado
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Há dias em que o noticiário traz tragédias tão impactantes que provocam mais perplexidade do que entendimento. Sociologia, antropologia, psicologia, muitas são as ciências que oferecem ferramentas para a compreensão de atos aparentemente absurdos. Mas, muitas vezes, é a arte que, sem deixar de se apropriar dessas ferramentas, melhor lança luz sobre os atos humanos. Na mesma trilha de filmes como Cidade de Deus e Ônibus 174, grupos teatrais vêm se debruçando sobre a realidade imediata para tentar compreendê-la. É o caso de Alento, que estréia sexta num casarão da Rua Haddock Lobo, nos Jardins, em São Paulo, que em breve será demolido para dar lugar a um prédio. A ação de Alento - dirigida por André Grynwask com a Nihil Confraria Teatral - acontece inteiramente nos cômodos do casarão e, na ficção, retrata as 24 horas em que nela habita uma mulher e sua filha, invasoras do imóvel abandonado. O casarão é a última passagem dessa ex-moradora de uma favela, de onde foi expulsa por traficantes em disputa de poder. Quando a peça tem início, ela está novamente acuada. Numa mistura de ficção e realidade, toma conhecimento de que o casarão será demolido e deve abandoná-lo. De forma fragmentada, ela reconstitui sua história, antes de enfrentar uma nova tragédia, a última para ela e sua filha. Na encenação, todo o espaço é aproveitado. O espetáculo, restrito a 30 espectadores, começa na garagem, toma conta da sala, quartos, do jardim e até da edícula. Trilha sonora e efeitos de luz têm importância fundamental, na reconstituição do passado. Criada em 1998, a Nihil tem quatro espetáculos no currículo, dois deles tendo participado de festivais em Havana (Cuba) e da mostra paralela do Festival de Avignon, na França. Ano passado, sob orientação de Antônio Araújo (O Livro de Jó, Apocalipse 1,11), o elenco desenvolvia uma pesquisa sobre a perda feminina, por intermédio das peças Medéia, Mãe Coragem e Yerma. Foi quando uma tragédia na Favela do Paraguai, em Vila Prudente, chamou a atenção do grupo. Por conta de uma disputa de traficantes, muitos moradores foram expulsos do lugar. A guerra deixou como saldo um incêndio com vários barracos queimados e 23 mortos. "Alguns fatos verídicos inspiraram esse espetáculo", conta André. Outro foi a notícia de uma mulher americana que matou os cinco filhos afogados na banheira. "Uma das explicações, de um psicólogo, era sobre as sucessivas perdas dessa mulher que provocaram tal insegurança que, para ela, matar os filhos significava protegê-los da vida." Tudo isso virou material de pesquisa e resultou em Alento, que tem direção de André Grynwask, texto final de Alessandro Toller e, no elenco, Andrezza Severo, Patrícia Andreucci e Rodrigo Guimarães. Como o número de espectadores é restrito, reservas podem ser feitas pelo telefone (11) 9247-8369. Alento - Duração de 75 minutos. Sexta e sábado, às 21 h. Dom., às 20 h. R$ 15,00 + 1kg de alimento não perecível. Centro Momentâneo de Teatro. Rua Haddock Lobo, 829, tel. 9247-8369. Até 22/12.

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