O núcleo de 12 telas cedidas pelo Museu de Wuppertal ao Museu Lasar Segall decorrem de uma leitura bastante particular do expressionismo alemão, com o objetivo de evidenciar a importância dessa escola na obra do artista lituano que acabou tornando-se um dos grandes nomes da arte brasileira deste século. Os critérios para essa seleção foram cronológicos e temáticos. Em primeiro lugar, foram escolhidas obras realizadas depois de 1.ª Guerra, quando se nota um arrefecimento da busca do paraíso idílico e selvagem, que marcou o início do movimento, e uma maior preocupação social e até um engajamento político por parte dos artistas. Alguns desses artistas, principalmente Conrad Felixmüller e Otto Dix, mantiveram estreitas relações com Segall quanto o artista vivia em Dresden, entre 1910 e 1921. Outro critério para a seleção dos trabalhos foi a busca de elos, diálogos entre algumas obras. É o caso por exemplo de uma pequena tela de Paul Klee ou um retrato de Jankel Adler, cuja temática e estrutura compositiva são bastante semelhantes à telas expostas na coleção permanente do Museu Lasar Segall. É impressionante como a cidadela européia retratada por Klee tem uma estrutura similar ao óleo Paisagem Brasileira, feito pelo lituano em 1925. O mesmo ocorre entre o retrato Erika (1923), do também judeu Adler, e Rua (1922), de Segall - ambos marcados por uma clima metafísico e uma depuração cubista. Para contextualizar melhor a exposição da segunda geração de expressionistas alemães, o diretor do Museu Lasar Segall, Marcelo Araújo, montou uma pequena mostra de retratos do artista nos quais podem-se ver alguns retratos feitos por ele de seus companheiros alemães. O retrato é, aliás, o tema predominante nesse segmento da mostra. Segundo Araújo - que com os curadores do MAM e do Paço Imperial, Tadeu Chiarelli e Lauro Cavalcanti, trouxe essa mostra para o Brasil após dois anos de trabalho -, o grande mérito dessas exposições está em mostrar ao público brasileiro a riqueza desse movimento, a efervescência cultural alemã nos anos 10 e 20. "A grande referência da modernidade acabou tornando-se a fundação do Museu de Arte Moderna de Nova York em 1929 - numa visão consolidada pelos americanos -, mas o verdadeiro nascimento da modernidade está aqui", conclui, apontando para os quadros à sua volta. Realmente, esses eventos permitem não apenas recontextualizar a obra de artistas brasileiros representados nas exposições (num primeiro plano Segall e depois Abramo e Goeldi), mas toda a história da arte brasileira moderna, que tem como ponto de início, aliás, a mostra realizada por Anita Malfatti em 1917, recém-chegada da Alemanha e que tanto escandalizou a burguesia local com o expressionismo degenerado que aprendeu por lá.