Aleijadinho ganha semana debates em MG

As recentes polêmicas sobre a obra do mais importante artista do Barroco mineiro são tema de debates na 26.ª Semana do Aleijadinho, que termina sábado em Ouro Preto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Considerado o patrono da arte brasileira, é mais do que natural que Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, seja assunto recorrente. Este ano, contudo, as obras do mais importante artista do Barroco mineiro estiveram no centro de algumas polêmicas. Da apreensão de peças atribuídas a ele que iriam a leilão no Rio à discussão sobre a conservação dos 12 profetas esculpidos em pedra-sabão no adro do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG), além da batalha judicial envolvendo a publicação de trabalho de catalogação de suas esculturas, Aleijadinho foi notícia. Por isso, a 26.ª Semana do Aleijadinho, que termina no sábado, em Ouro Preto (MG), ganhou interesse público. Amanhã, uma mesa-redonda vai analisar o furto de imagens sacras. O debate terá a coordenação do delegado da Polícia Federal Tadeu Moura Gomes, chefe da Interpol em Minas, além de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Promotoria de Justiça de Ouro Preto. ?Será uma espécie de audiência pública?, destaca Agostinho Barroso de Oliveira, diretor e um dos fundadores do Museu do Aleijadinho, que coordena o evento. ?Do encontro vai resultar uma proposta concreta.? De acordo com a superintendência do Iphan em Minas, mais de 150 peças, suspeitas de pertencerem ao acervo de igrejas históricas do Estado, foram apreendidas este ano em antiquários e galerias de arte do País. Com base em liminares judiciais, representantes do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), com agentes da PF, apreenderam em agosto imagens, supostamente esculpidas por Aleijadinho, da coleção do médico João Bosco Vianna Gonçalves. As peças iriam a leilão no Rio. O restaurador do Iphan-MG Antônio Fernando dos Santos considera importante a discussão em torno do assunto durante o evento, ressaltando a questão da religiosidade popular. ?Estamos perdendo objetos de devoção?, observa. Ele, porém, chama a atenção para possíveis excessos que estariam sendo cometidos nas apreensões. Considerado um dos maiores estudiosos do País da obra de Aleijadinho, Santos é um dos autores do polêmico livro O Aleijadinho e Sua Oficina (Editora Capivara), catalogação das obras do artista. Lançado em março, a venda do livro ? escrito em parceria com Miriam Ribeiro de Oliveira e Olinto Rodrigues dos Santos Filho ? chegou a ser embargada após ação impetrada pelo colecionador Renato Whitaker, mas foi liberada em meados do ano. O catálogo dos autores não inclui diversas imagens, que fazem parte de museus de todo o Brasil e coleções famosas, até então consideradas legítimas. Outra polêmica refere-se à retirada das esculturas de pedra-sabão dos 12 profetas ? consideradas as obras-primas do artista ? para um museu que seria construído em Congonhas. Os defensores da transferência alegam que as peças vêm sofrendo com a ação do tempo. A proposta tem a simpatia do ministro da Cultura, Gilberto Gil, mas enfrenta resistência de pesquisadores e técnicos. Dentro da programação do evento, o médico e professor mineiro Geraldo Barroso de Carvalho fez ontem a palestra Doenças e Mistérios do Mestre Aleijadinho com novos dados sobre as patologias do artista. Carvalho comandou análise dos restos mortais do escultor e concluiu que Aleijadinho sofria de porfiria, defeito enzimático da formação da hemoglobina, doença que seria responsável pela coloração avermelhada dos ossos do artista. Carvalho diz que a porfiria produz fotossensibilidade, o que explicaria as informações de que Aleijadinho sempre trabalhava protegido por um toldo e costumava sair de madrugada e só retornava à noite. ?Muitos acreditam que ele tentava esconder suas deformações. Eu acho que ele se escondia do sol.? O corpo de Aleijadinho foi exumado pela primeira vez em 1930. Pela análise das vértebras, o médico diz que se tratava de uma pessoa que foi carregada durante boa parte de sua vida.

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