Álbum 'Movimento Sincopado' reúne dez grupos de choro

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Por AE
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Seria natural que uma respeitável coletânea de novos conjuntos de choro impressionasse pelo virtuosismo. Afinal, as reformulações mirabolantes do gênero, propostas por Hamilton de Holanda, Yamandú Costa e companhia, tornaram-se quase imprescindíveis em clubes e rodas pelo País, ao passo que os novos craques das mesas de botecos parecem ter de metralhar frases com a agilidade de um de seus ídolos contemporâneos se quiserem se destacar. Entretanto, ao exemplo do coletivo paulistano Sincopado, a produção de choro novo, com firmes raízes em Jacob e Pixinguinha, e que não dependa completamente de brilho técnico, tem dado crias interessantes. "O espaço já é pequeno. E o virtuosismo é o que acaba aparecendo mais na mídia", conta André Parisi, clarinetista do Língua Brasileira, um dos dez grupos reunidos no disco "Movimento Sincopado", que será lançado nesta quarta, no Teatro Coletivo. Parisi assina o choro "Barões de Lundu", uma composição que chama a atenção mais pelo conhecimento da linguagem, como se fosse um choro antigo, desconhecido, do que pelas peripécias em sua execução. Há contrapontos estudados e as harmonias não enveredam pelo vale-tudo suspenso e dissonante que se costuma ouvir em composições de música instrumental moderna. "É uma turma que compõe bastante e já está aí, na noite, há algum tempo", conta Parisi, sobre os outros grupos. "Só posso falar por mim, mas sei que todo mundo tocou muito Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e Jacob. Talvez, por isso, seja um pessoal menos interessado em tocar coisas técnicas, e mais interessado em construir composições interessantes, dentro da linguagem", completa. Parisi conhecia os outros grupos - Quartetonia, Bora Barão, Coisa da Antiga, Choro da Casa, Allan Abadia e Conjunto, Marcel Martins e Conjunto, Os Camundongos, Central do Choro e Terra Ressoa - da noite paulistana. Muitos fizeram escola nos sambas de São Mateus, reduto do gênero, na zona leste, outros vêm de Osasco, São Bernardo, zona oeste. "Mas eu conheci todo mundo aqui mesmo, em rodas na Vila Madalena. No Ó do Borogodó, no Bar do Cidão", explica. Insatisfeitos com o papel marginal que a música instrumental tende a ocupar na noite, os integrantes dos grupos decidiram juntar-se, há cerca de três anos, para conseguir lugares para tocar e movimentar projetos (o disco do "Movimento Sincopado" faz parte do Programa de Ação Cultural, o ProAC, da Secretaria do Estado da Cultura). É uma história semelhante à do Movimento Elefantes, coletivo de orquestras de jazz e afins que se juntaram para fazer shows. "Essa moçada traz influências de jazz, blues e outras coisas para o choro", conta Ruy Weber, violonista e diretor musical do Movimento, que produziu e selecionou as composições que integram o disco. "É interessante que eles conseguem fazer isto sem sair da linguagem clássica", afirma ainda.Os arranjos do disco foram feitos pelos próprios grupos. Entre os destaques estão composições como "Rodopiando", de Marquinho Mendonça, que integra o conjunto Choro da Casa. Trata-se de um choro simples, sem firulas harmônicas, que ganha personalidade através de um diálogo entre flauta, acordeão e bandolim. Já "Cachorro Vadio" é uma "singela analogia entre os cachorros que andam perdidos pelas ruas, e os boêmios da noite", como explica a nota de divulgação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.MOVIMENTO SINCOPADOTeatro Coletivo (Rua da Consolação, 1.623). Telefone (011) 3255-5922. 4ª, às 20 h. Grátis.

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