Adonias, Orianne, J.H., João Gabriel, Helena Maria, Rodrigo, Dora. Para cada personagem, um conto, uma novela ou, ainda, um capítulo, para quem preferir ler como um romance O Que É Ser Rio, e Correr?, do escritor, dramaturgo e colaborador do Estado Alberto Guzik. "São histórias de pessoas, não de situações; comecei dando títulos diferentes para essas histórias, mas depois percebi que o mais lógico seria dar o nome dos protagonistas", diz o escritor.Guzik conta que essa reunião de histórias nasceu de uma espécie de fracasso. Depois de publicar o romance Risco de Vida, em 1995, começou a escrever uma nova obra do gênero, intitulada Um Palco Iluminado. Decidiu que o livro não estava pronto e que deveria, pelo menos por enquanto, permanecer inédito. Por sugestão de um amigo, resolveu retomar um antigo projeto: narrar histórias de pessoas que tiveram suas vidas atravessadas por obras de arte.Adonias, por exemplo, é um ator pornô que, certo dia, assiste a um clássico, um Hamlet com "esse tal de Laurence Olivier". J.H. é um advogado cuja existência é transformada pela leitura de Fernando Pessoa (que, aliás, empresta um de seus versos, "O que é ser-rio, e correr?", com o hífen, para o título do livro de Guzik). Dora é uma empregada doméstica que se impressiona com a reprodução de um tríptico do pintor Francis Bacon. E assim por diante.A história de Dora também é emblemática de outra característica comum aos contos: uma certa fricção social evidente na metrópole - especialmente na metrópole do final do século 20 e início destes novos cem anos.Profundamente religiosa, ela é surpreendida um dia por sua patroa, jornalista, que decide colocar uma grande reprodução de uma obra do pintor Francis Bacon em sua sala.Primeiro, ela escuta a palavra bacon, um sinônimo afetado de toucinho, e não entende como aquilo pode ser colocado na parede. Depois, ela vê - "e compreende", como escreve Guzik (leia trecho). Na verdade, Dora tem uma aproximação muito mais profunda e intensa com a obra do que sua patroa, que mantém uma relação apenas fetichista com as reproduções do pintor famoso. A leitura que Dora, no entanto, faz dos quadros, a partir de suas referências, só é capaz de causar um enorme tormento em sua existência."Todos os contos acabaram tendo personagens muito diferentes do ponto de vista social, passando do lúmpen à socialite; não sei como esse painel se articulou, sem nenhum planejamento, mas foi a maneira pela qual a obra se concebeu, e resolvi respeitá-la", afirma Guzik. "De uma maneira ou de outra, elaborei um depoimento pessoal sobre o que vi no final do século passado."O Que É Ser Rio, e Correr? De Alberto Guzik. Editora Iluminuras. 208 páginas. R$ 33,00. Hoje, a partir das 18h30. Livraria Cultura/Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2.073, tel. 3285-4033).