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Alagoas surpreende com reconstituição de Palmares

Espetáculo encenado em Alagoas, para as comemorações do Dia da Consciência Negra, juntou cerca de 15 mil pessoas na Vila dos Palmares, onde foi reconstituído o dia-a-dia do Quilombo dos Palmares

Por Agencia Estado
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Quizomba: Tambores dos Palmares, de Beatriz Brandão, Mirna Porto e Gustavo Leite foi o espetáculo grandioso que marcou as comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, que tradicionalmente transformam o dia 20 de novembro em feriado estadual em Alagoas. Cerca de 15 mil pessoas passaram pela Vila dos Palmares, uma área próxima à Serra da Barriga, onde foi reconstituído o dia-a-dia do Quilombo dos Palmares. Este espetáculo só será apresentado novamente nesta sexta-feira em sessão especial para o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Francisco Iglésias, que aprovou recentemente um programa de modernização para a Prefeitura de Maceió. Olhando o palco vazio, antes de tudo começar, não dava para imaginar que aquele cenário simples sustentaria um espetáculo de "primeiro mundo", como se dizia ao final. Distante do público por causa do terreno acidentado, o palco deixava em destaque só a parede de bambu no fundo do cenário, iluminada com o efeito sombreado do fogo. Não havia nada ali, além de sombra e luz. E mais grama, palha, chão. Nenhuma pirotecnia. Um espetáculo cuja força estava nos dançarinos, na música e nos textos em prosa e nos versos do poeta alagoano Jorge de Lima, nascido em União dos Palmares. "Energia pura", diziam na platéia. Os três palcos foram construídos em forma de trapézio com uma passarela em um nível inferior a eles. No início, havia uma dançarina em cada um deles com saias imensas, cujo movimento, lembrando as ondas do mar e a travessia da África para o Brasil, indicava que havia gente ali debaixo. Eram 100 bailarinos. Na passarela, os orixás em posição de guarda, com suas roupas típicas: Iansã, Oxumaré, Oxalá, Xangô, que era o Orixá de Ganga Zumba e Ogum, que era o orixá de Zumbi, como conta o coreógrafo e professor de dança afro Edu Passos, que interpretou os dois e idealizou o trabalho com Isabella Prada. "Ninguém se conhecia - conta ele - ao falar dos bailarinos montamos esse grupo em praticamente 15 dias". A coreografia em nove partes contava em movimentos a história dos negros, representando seu cotidiano em um engenho, com as mulheres carregando potes de água e cestos e dos homens, transportando cana nos ombros. Uma orquestra de vozes fazia fundo para a encenação do papel político de Ganga Zumba no Quilombo dos Palmares, enquanto a liderança guerreira de Zumbi era encenada com alternância das orquestras de atabaque e percussão, o guerreiro que lutava por um sonho, a liberdade. Era este sonho, esta garra que se via ali nos gestos, nos gritos de guerra dos bailarinos naqueles 700 metros quadrados de palcos, no sopé da Serra da Barriga onde ele viveu 300 anos atrás. Ao final do espetáculo Cacá Diegues foi procurar o amigo de sempre Beto Leão, um poeta, pintor e compositor da terra que é hoje secretário da Cultura do Estado: "que maravilha, estou emocionado, que energia, que inspiração, fiquei emocionadíssimo." Djavan, outro alagoano famoso, disse que "não esperava ver um espetáculo tão grandioso. É uma festa que tem que se sedimentar, porque Zumbi é um dos grandes ícones da nossa cultura."

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