Al Hirschfeld morre aos 99 em Nova York

Ele era considerado o rei da caricatura. Por quase 70 anos, o The New York Times publicou seus desenhos, uma extensa galeria de estrelas da cultura americana feita com sofisticação, inteligência e sentimento

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Por Agencia Estado
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O caricaturista Al Hirschfeld, que desenhou as maiores estrelas de Hollywood e da Broadway, morreu dormindo nesta segunda-feira aos 99 anos, em Nova York. Considerado um mestre da caricatura, Al Hirschfeld trabalhou até o sábado anterior à sua morte, quando estava desenhando os Irmãos Marx. Em mais de 80 anos de carreira (seus primeiros desenhos foram publicados nos anos 20 do século passado), ele compôs uma galeria com quase todos os grandes nomes do showbiz americano, como Charlie Chaplin, Ethel Merman, Woody Allen e tantos outros. Amado e respeitado por toda a comunidade cultural e jornalística dos Estados Unidos, principalmente os nova-iorquinos, Al Hirschfeld tinha um hábito que acrescia charme à sua imagem: em todos os seus desenhos, traçava de forma oculta o nome de sua filha, Nina, para que os leitores encontrassem. Esta amabilidade era reforçada pelo aspecto de Papai Noel que sua longa barba branca lhe conferia. ?Tudo o que sei é que quando a coisa funciona, eu estou ciente, mas como deu certo, não sei?, disse ele uma vez. ?Através do julgamentos, você elimina os erros e chega então à linha pura, que comunica a quem vê. O último desenho que se faz deve ser o melhor desenho?, dizia. Al Hirschfeld era freqüentador da Broadway. A classe teatral correspondia à altura seu amor pelo teatro e considerava seus desenhos como trabalhos de arte. Por quase 70 anos, os desenhos de Al Hirschfeld apereceram na página de teatro do The New York Times. Arthur Gelb, ex-editor executivo do jornal, lembra a época em que cuidava da edição da área cultural do diário. ?Eu desdobrava o desenho e imediatamente ele agia como um imã de repórteres e editores, todos queriam ver o que Al tinha feito.? O trabalho de Al Hirschfeld saía em várias outras publicações, em revistas tão diferentes como Playbill e TV Guide. Muitos de seus desenhos pertencem ao acervo de instituições de prestígio, como o Museum of Modern Art e o Metropolitan Museum of Art, ambos de Nova York. Joel Grey, ator da Broadway, é dono de dois desenhos que Al Hirschfeld fez sobre ele. Um deles retrata Grey como o mestre de cerimônias no clássico Cabaret. Grey tem uma boa definição para Al Hirschfeld: ?Havia muita arte e visão em seu trabalho e, por baixo, seus desenhos tinham muita humanidade. Eles não eram viciosos. Ele os fazia brilhantes e provocativos, mas sem nunca ser destrutivo, isso é um grande feito.? A gratidão da classe teatral para com Al Hirschfeld rendeu ao artista um prêmio Tony em 1975. E, em junho próximo, o teatro Martin Beck será rebatizado com o nome de Al Hirschfeld. Albert Hirschfeld nasceu em 21 de junho de 1903, em Saint Louis. A família se mudou para Nova York, onde ele estudou no Art Students League. Depois, estudou pintura, desenho e escultura em Paris e Londres, nos anos 20. Em uma viagem a Nova York, um amigo mostrou uma caricatura sua a um jornalista do New York Herald Tribune. O jornal foi o primeiro a contratar Al Hirschfeld como caricaturista. Pouco tempo depois, o The New York Times o contratou, e por lá ele ficou pelas décadas seguintes. Seu trabalho era uma crônica visual do showbiz. Uma verdadeira galeria de ícones da cultura americana, que inclui luminares como George e Ira Gershwin, Audrey Hepburn, Rex Harrison, Benny Goodman, Count Basie, Luciano Pavarotti, Maria Callas, Barbara Streisand, Liza Minnelli, Bruce Springsteen, Madonna e muitos outros. A explicação para sua extensa produção era dada pelo próprio Hirschfeld: ?Nunca tiro um dia de folga. Quando viajo, sempre desenho. Não saberia o que mais fazer.?

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