AL busca integração em produções infanto-juvenis

Festival Prix Jeneusse aponta deficiências em produção para TV e internet na região

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Por Rodrigo Martins
Atualização:

O Teatro Anchieta, no Sesc Consolação, virou uma sala de cinema. Na telona, nada de longas ou curtas-metragens. O dia todo, até quinta-feira, as luzes se apagam é para que os espectadores possam ver programas de TV infantis e adolescentes. Na plateia, ao contrário do que se possa imaginar, não há crianças. Só adultos absortos, com papel e caneta nas mãos, anotando cada detalhe. Nas caixas acústicas, de forma intercalada, escuta-se português em alguns momentos e, em outras, uma sorte variada de sotaques em espanhol.

 

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Estamos no meio de brasileiros, argentinos, mexicanos, colombianos, venezuelanos, panamenhos, bolivianos e chilenos. Todos, adultos, estão lá para descobrir, discutir e se inspirar no universo do que se produz em televisão e internet para crianças e adolescentes. Os presentes, produtores de conteúdo, vieram a São Paulo para participar do Prix Jeneusse Iberoamericano, um festival dedicado ao assunto que ocorre pela primeira vez no Brasil, começou ontem e vai até o dia 15. Mais do que um painel e uma competição, o evento tem a intenção de integrar e fomentar a produção na América Latina.

 

"Já tivemos momentos melhores em programação para crianças e adolescentes", diz a diretora-geral do Prix, Beth Carmona. "Trazer o evento, que está na quarta edição, para o Brasil é uma forma de chamar a atenção para isso." Segundo ela, estabelecer a cooperação entre países da América Latina na área pode fazer com que se avance não só no Brasil, mas no continente como um todo. "Há um desconhecimento e preconceito entre o que é produzido entre os países. Poderia haver cooperação, troca de experiências."

 

Coordenadora do núcleo infanto-juvenil da TV Cultura, Ambar de Barros afirma que, dessa forma, é possível comparar e discutir linguagens, inspirar-se no que dá certo em outros países. "Quando se pensa em co-produção, formatos, vai-se logo a programas norte-americanos, não se pensa em ideias criativas de nossos vizinhos." Esse cenário, diz, se agrava quando se percebe que a programação infanto-juvenil está sumindo das emissoras de TV. "Muitas vezes, ela está lá só para dar audiência. Não se discute o que é uma programação de qualidade."

 

A mesma situação é percebida no México. Diretor de produção do Canal 11, Alfredo Marrón afirma que o papel lúdico das atrações para o público está se perdendo. "Nas maiores redes do México, por exemplo, temos produções de ficção ditas para crianças em que há adultos que se apaixonam. Há tramas paralelas para agradar a toda a família. Os programas exclusivamente para crianças e adolescentes, com linguagem adequada a eles, estão se perdendo."

 

Para países como a Bolívia, a situação é mais complicada ainda, afirma Liliana De La Quintana, da produtora  Nico Bis. "Há menos recursos para produzir. A televisão acaba por preferir atingir outros públicos, mais rentáveis. Por conta disso, a programação para crianças acaba por desaparecer. Uma cooperação entre países, e até a troca de conteúdos, poderia ajudar nisso."

 

Num evento em que a falta de espaço na TV para as crianças é uma das tônicas, surge também outra possibilidade: a internet. Pela primeira vez, o Prix abre espaço a produções feitas para a rede. "As produtoras independentes que não têm lugar na televisão ganham uma nova possibilidade. Ainda mais num momento em que crianças e jovens estão cada vez mais conectados. A televisão já não os satisfaz mais hoje", opina Beth.

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COMPETIÇÃO

Além de discussões, que ocorrem sempre após cada sessão e em mesas especiais, o Prix também é uma competição entre programas para TV e internet. No total, 50 produções de 12 países concorrem em cinco categorias: ficção para até seis anos de idade; não ficção para até seis anos; ficção para entre 7 a 11 anos; não ficção para entre 7 a 11 anos; ficção e não-ficção para entre 12 e 15 anos. Os vencedores serão escolhidos pelos 300 participantes que acompanham as sessões.

 

O formato da premiação é inspirado no Prix Jeneusse original, realizado desde 1964 na Alemanha. Os vencedores serão premiados com um troféu, uma câmera filmadora e uma viagem justamente à Alemanha para acompanhar o Prix original em 2011. Dos concorrentes nesta edição em São Paulo, 50% dos trabalhos são de brasileiros e o restante de estrangeiros.

 

As sessões, realizadas até esta quinta-feira, são apenas para inscritos. O festival, porém, tem uma programação aberta com os melhores do Prix Jeneusse da Alemanha.Delas, qualquer um pode participar. As sessões ocorrem até este fim de semana nos Sescs Consolação, Interlagos e Itaquera. Para mais informações, acesse http://www.prixjeunesseiberoamericano.com.br/.

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