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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Ainda falta uma dose

'É que minha ansiedade não dá conta. E quanto mais perto, mais longe'

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

Ainda falta uma dose, meu amor. Quem sabe, então, a gente possa se encontrar sem grilos. 

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Ainda falta uma dose, meu amor. Depois vai ser mais “sussa”, com menos travas e fantasmas.

Ainda falta uma dose, meu amor. A menos que tenha dado ruim o nosso enredo. Sei lá, faz tanto tempo. Posso ter entendido errado.

Ainda falta uma dose, meu amor. Talvez a gente tenha aquecido o forninho antes da hora e queimado a largada em algum papo virtual. Não sei se você entendeu que aquele emoji era uma piada. 

Ainda falta uma dose, meu amor. Mas vai que algum estranho chegou na minha frente. Vai que perdi o bonde. Vai que você se deixou levar por um negacionista canalha. Ou, vai que, ele é um cara legal (embora eu duvide muito).

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Ainda falta uma dose, meu amor. Estou treinando no espelho. Já separei a roupa e acabei de definir o corte de cabelo. Vou usar um sotaque diferente para você gostar de mim.

Ainda falta uma dose, meu amor. Vou escrever seu nome na minha máscara. Quero passar álcool gel na sua mão (bem devagarinho). Vou ser um tipo de amante latino. 

As prefeituras alegam atraso ou entrega dos lotes pelo governo estadual em quantidade insuficiente Foto: Felipe Rau/Estadão

Ainda falta uma dose, meu amor. É que minha ansiedade não dá conta. E quanto mais perto, mais longe. Se você quiser que eu faça um PCR, eu não ligo. Faço sim, 48 horas antes do nosso encontro.

Ainda falta uma dose, meu amor. Você poderia me dar um sinal qualquer. Um coraçãozinho no WhatsApp já me ajudaria. Sei que é ocupada e trabalha demais. Normal isso, né?

Ainda falta uma dose, meu amor. Talvez você nem exista de verdade. E não passe de uma invenção minha. Alguém que eu criei para ver o tempo passar mais rápido. 

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Ainda falta uma dose, meu amor. Vou continuar fingindo que tem alguém me esperando quando tudo isso acabar. Isso vai acabar, não é? 

Ainda falta uma dose, meu amor. E eu prefiro terapia presencial. 

*Gilberto Amendola é repórter do Estadão e observador da vida urbana

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