Aeroporto de Congonhas restaura painel de Di Cavalcanti e Graciano

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Por Agencia Estado
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Em 1954, Emiliano Di Cavalcanti e Clóvis Graciano entregaram à administração do Aeroporto Internacional de Congonhas, então o maior da América Latina e um dos quatro maiores do mundo, um painel para o recém inaugurado pavilhão das autoridades. Durante quase meio século, o painel foi testemunha das mudanças no aeroporto, mas também vítima do tempo, sofrendo com a poluição e a falta de cuidados. No último dia 30 de novembro, depois de seis meses de trabalho de uma pequena equipe formada por quatro pessoas e comandada pelo artista plástico Júlio Moraes, a obra, de 16 metros de comprimento por 3,5 m de altura, a restauração foi inteiramente concluída. A empreitada, que custou R$ 55 mil, recupera um patrimônio do setor reservado do aeroporto. O pavilhão das autoridades criado em 1954 e inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas foi uma das muitas obras criadas na cidade para comemorar o 4.º Centenário. Pelo local passaram presidentes e chefes de Estado de vários países. O grande público porém ainda não tem como apreciar o painel, que por isso mesmo permanece praticamente desconhecido, não constando sequer do catálogo dos autores. Segundo a assessoria da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), há a possibilidade de agendar visitas monitoradas. Os cerca de 28 mil passageiros que passam pelo aeroporto todo dia, porém, vão continuar sem conhecer a obra. Uma pena, já que o trabalho de restauração conseguiu devolver as cores originais ao painel e, principalmente, reverter os danos causados por uma intervenção feita em 1982, quando a obra foi toda repintada por pessoal não qualificado. ?Uma parte do céu havia sofrido uma grande infiltração de água e estava destruída, assim como a base. Mas o problema maior foi retirar a tinta da repintura?, conta o restaurador Claudemir Ignácio, um dos responsáveis pelo painel. A equipe, que não conhecia a obra, acha que Graciano foi o seu idealizador, dadas a geometrização e estilização do painel, características que sempre marcaram o artista. O aeroporto, que possui em seu acervo cerca de 12 obras que ainda incluem Brecheret e Ernani do Val Penteado, pretende reinaugurar o painel com uma grande exposição no início do ano que vem. Uma mostra fotográfica retrospectiva de 1954, ano do 4.º Centenário e da criação do pavilhão das autoridades. Di Cavalcanti (1897-1976) é considerado um dos maiores artistas brasileiros. Apesar de ter se notabilizado como pintor das mulatas, teve três fases importantes: as naturezas-mortas, as cenas de gênero e os retratos de mulheres. Foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, mas criticou o movimento anos depois, chegando a se dizer arrependido por participar. De Clóvis Graciano (1907-1988) pode-se dizer que começou sua carreira pintando postes e porteiras para a Estrada de Ferro Sorocabana, onde trabalhou a partir de 1927. Três anos depois passou a desenhar e, em 1934, fez suas primeiras pinturas em óleo e aquarela. Di Cavalcanti e Graciano também têm outros trabalhos na cidade em fase de restauração. São os grandes painéis que ficam na antiga sede do O Estado de S. Paulo, na Rua Major Quedinho, no centro, que conta também com um trabalho de Portinari. As obras, assim como toda a arquitetura do edifício datam dos anos 50, e todo o projeto de restauro, que inclui a fachada e o relógio do prédio está orçado em R$ 450 mil, e encontra-se ainda em fase de captação.

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