Adversários do Guggenheim criticam filial no Rio

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Por Agencia Estado
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As correntes contra o Guggenheim e a favor do museu, no Píer Mauá, na zona portuária no Rio, terão mais um embate na semana que vem. A prefeitura do Rio anuncia a chegada do presidente da Fundação Guggenheim, Thomas Krens, e do diretor da unidade de Bilbao, na Espanha, Juan Vidarte, para mais uma rodada das negociações. É a segunda visita desde janeiro, quando foi assinado o acordo para o estudo de viabilidade, que custou US$ 2 milhões (cerca de R$ 4,7 milhões) ao município. Ontem, adversários da idéia se reuniram no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) para criticá-la. Entre eles estavam o produtor cultural Romaric Suger Büel, o colecionador João Satamini, o crítico de arte e poeta Ferreira Gullar e o economista Carlos Lessa, candidato favorito da eleição para reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A prefeitura não foi convidada a falar. "Nossa intenção não é debater a validade do Guggenheim. Queremos fazer circular a informação sobre o projeto", justificou o presidente do IAB, Carlos Fernando de Andrade. Ausente da reunião, o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieiras, informa que as questões levantadas pelos técnicos do Guggenheim dizem respeito à legislação sobre uso do solo, aos bens históricos das redondezas aos planos de revitalização da zona portuária, à importância econômica e cultural do Rio no País e ao público de instituições semelhantes na cidade. O colecionador João Satamini, cujo acervo de arte do século 20 está cedido em comodato ao Museu de Arte Comtemporânea (MAC), de Niterói, considera a meta de público do Guggenheim carioca "um sonho de uma noite de verão". Em janeiro, Krens disse que " 300 mil pagantes por ano é fracasso e 1 milhão, um sucesso". Segundo Satamini, 1 milhão é o público do MAC em cinco anos de existência. Ele critica também a filosofia do projeto carioca. "Há duas questões complicadas. Uma é a operação imobiliária necessária à viabilizaçáo da unidade do Guggenheim carioca. A outra diz respeito à programação e à manutenção da unidade do Rio", disse Satamini. "Mostras de arte custam muito caro porque envolvem seguros, transporte das obras. Por isso, o Gugga de Nova York opta por expor o trabalho do estilista Giorgio Armani ou motocicletas, em eventos pagos pelos proprietários das marcas." A questão dos custos sensibiliza Ferreira Gullar e Conselho Nacional de Museologia (CNM). Seu diretor e professor da Universidade do Rio (UniRio), Mário Xavier, foi enfático. "Não se conhece museu autofinanciável, nem o Louvre", ressaltou ele. "Construir museu é fácil, todo mundo dá dinheiro. Depois vem a vida real, as contas a pagar e o milionário que pagou para ter o nome na placa de inauguração não quer dar dinheiro para cobrir folha de pagamento, conta de luz, etc.", completou Ferreira Gullar. "Se temos US$ 120 milhões (cerca de R$ 280 milhões) para um museu, porque não chamá-lo de Mário Pedrosa ou Oswaldo Goeldi, nomes importantes de nossa cultura, em vez de importar uma griffe?" A importação é a principal queixa dos arquitetos, que promoveram o debate, e de Romaric Büel. "Enquanto o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Museu Nacional de Belas Artes enfrentam problemas financeiros, vamos pagar caro para ter uma marca deficitária no país de origem", disse Büel. "E o Guggenheim saiu de seu objetivo inicial. Foi criado para ser um baluarte do abstracionismo. Hoje, o próprio Krens declara que a finalidade é ganhar dinheiro e quem quiser usar a marca paga." Para diretor do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, Luiz Freitas, a questão é legal e estética. "A legislação brasileira é clara: arquitetos estrangeiros só podem trabalhar no País se escolhidos em concurso internacional ou em instituições de ensino, desde que tenha uma especialização inexistente entre o corpo docente", ressaltou o diretor do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, Luiz Fernando Freitas. "O Jean Novel, escolhido para criar o projeto do Guggenheim carioca não se encaixa em nenhum desses casos, apesar de sua competência mais que comprovada. Não seria uma oportunidade de realizar, pela primeira vez no País, um concurso internacional, como é praxe em Paris, por exemplo? A capital francesa é um imenso mostruário da arquitetura mundial graças à exigência de concursos internacionais para qualquer obra pública?" Sem resposta a essas questões, o secretário Ricardo Macieiras prefere ser otimista. "Creio que, em setembro, o estudo de viabilidade estará concluído e nosso desejo é licitar sua construção dentro de um ano."

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