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Adriana Varejão reúne imagens em livro

Artista lança nesta quinta, no MAM de São Paulo, o primeiro livro sobre sua obra, que reúne imagens de mais de 50 trabalhos realizados desde a década de 90

Por Agencia Estado
Atualização:

Adriana Varejão lança nesta quinta-feira, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, o primeiro livro sobre sua obra, que reúne imagens de mais de 50 trabalhos realizados pela artista desde a década de 90, quando considera que teve início sua bem-sucedida carreira. A publicação também reúne dois ensaios sobre sua produção, assinados pelos críticos Louise Nery - que também assina o livro, como editora - e Paulo Herkenhoff. Não coube a nenhum dos dois realizar uma apresentação didática da obra de Adriana, o que ajudaria o leitor pouco familiarizado a lidar com o seu sofisticado universo criativo. Um universo tecido a partir de um amplo repertório histórico, de um arcabouço teórico e visual repleto de referências barrocas, que compõem uma espécie de amálgama sobre a qual se constrói uma visão crítica e poética de sociedades coloniais como a brasileira. Às vezes esse comentário é mais explícito, como nas pinturas intituladas Filho Bastardo, em que a artista retrabalha gravuras de Debret para denunciar a miscigenação racial, baseada em relações de poder e mando; em outros casos, a figura e a narrativa desaparecem para criar um impacto único e violento sobre o espectador, como é o caso dos painéis de azulejos vivisseccionados, que sangram, que deixam suas vísceras escapar, expõem suas entranhas ao olhar arguto da artista. Como escreve Herkenhoff num texto bastante emotivo sobre a obra Azulejões, criada recentemente pela artista a partir de um amplo acervo de imagens recolhidas nos painéis de azulejaria de várias origens - criando uma interessante metáfora para o caos e falta de parâmetros da sociedade capitalista atual -, ela constrói uma saga do olhar. "A pintura é minha raiz, da mesma forma que o Brasil", diz Adriana, em frase citada por Louise Nery. Desta forma ela resume a dupla operação que lhe dá uma característica bastante particular no cenário artístico nacional: um vínculo estrutural com seu país e seu passado aliado a uma permanente inquietação investigativa. Em um dos melhores momentos do texto analítico de Louise Nery - que, infelizmente, muitas vezes se desvia do tema principal -, a crítica conclui que, para conseguir estabelecer essa leitura contemporânea do barroco, Adriana precisa atuar como uma espécie de agente duplo, "julgando, ameaçando, corrompendo seu centro e suas fundações: o espaço dos signos e da linguagem, esteio simbólico da sociedade e sua garantia de comunicação efetiva". Em outras palavras, além do cuidado estético e da profunda bagagem cultural que fazem parte do rico instrumental da artista, o que realmente torna especial a obra de Adriana é exatamente seu poder de crítica, de mostrar os pés de barro frágil, mas profundos, sobre os quais se assentam nossa modernidade. Adriana Varejão - Edição de Louise Nery. Textos de Louise Nery e Paulo Herenhoff. 151 páginas. R$ 50,00. Amanhã (30), às 19 horas. MAM. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º, Parque do Ibirapuera, portão 10, tel. 5549-9688.

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