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ADEUS ÀS NOVELAS

Autora de Friends diz que séries devem substituir tramas brasileiras

Por JOÃO FERNANDO e RIO
Atualização:

Novela é coisa do passado. Para Marta Kauffman, coautora da série Friends - que durou dez anos e, no Brasil, continua no ar pelo Warner -, o principal produto de exportação da televisão brasileira está ultrapassado. A norte-americana veio ao País esta semana para treinar roteiristas da Globosat e conversou com o Estado sobre as impressões ao assistir às produções nacionais."Assim como acontece com as novelas, parece que a maioria das séries de vocês têm uma ideia limitada. Nos EUA, a primeira coisa que você se pergunta  é: isso pode durar cinco ou dez anos? De onde virão outras histórias? Essa será a mudança", analisa a autora, que não se lembra do nome das atrações que viu. "Uma era sobre uma família e a outra era uma coisa policial", conta. Questionada se o segundo programa era o seriado Força-Tarefa (Globo), ela concorda.Em uma palestra aos roteiristas, na terça passada, ela reforçou a opinião de que as tramas da noite estão com os dias contados. "Direi coisas que vão deixá-los tristes. A telenovela não vai ser o primeiro gênero de entretenimento, não vai funcionar mais. Todo mundo tem de pensar algo diferente a ser feito. As pessoas não veem mais TV como antes. Quando a novela acaba, ninguém vê no DVD nem assiste no YouTube", avalia. Para ela, produzir programas com temporadas é o caminho da TV. "Acho que isso está evoluindo aqui. Minha esperança é que o mercado saiba que é preciso fazer um investimento para os próximos anos. Nos EUA, tudo está acontecendo na TV e nas séries para internet. Há outras maneiras de contar histórias."De 1994 a 2004, Marta viveu em função de Friends ao lado de David Crane, também autor e produtor executivo da atração, com quem virou noites escrevendo. E garante que nunca houve momentos de crise, nem mesmo quando os atores pediam aumento. "É estressante, mas não houve momento difícil. Talvez o mais difícil nos dez anos foram algumas histórias de alguns episódios que não funcionaram, eram chatas. Vi e pensei: posso pular da janela?", diverte-se. As histórias surgiram a partir da experiência dela e de Crane quando foram morar em Nova York com amigos. "Eu não anotava nada, não sabia que ia usar aquilo. Só vivi a vida. Mas nós dois lembrávamos de tudo", revela a autora, que chegou a dividir os textos com 14 roteiristas. "Nossa regra era não levar crédito por nada. É tudo coletivo, Assim, o grupo se sente bem."Agora, Marta está envolvida na produção de Call me Crazy: A Five Film, continuação do filme para TV Five, sobre mulheres com câncer de mama. "Descobri que gosto de fazer as pessoas chorarem assim como faço rir", aposta. Ela, porém, afirma que não fará uma versão de Friends para o cinema. "Não há esperança. Prefiro que as pessoas fiquem querendo que aconteça em vez de desapontá-las. É um programa com muitas câmeras, difícil de transformar em filme. E as pessoas envelhecem. Vão passar metade do filme falando: 'Nossa, ele está acabado'. Não podemos fazer o que já fizemos. Vamos deixar todos querendo mais."

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