Adélia Prado lança primeiro livro infantil

A poeta traz à tona seus tempos de infância em Quando Eu Era Pequena

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Por Agencia Estado
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Aos 70 anos Adélia Prado deixa o seu lado criança fluir nas páginas de Quando Eu Era Pequena (Record, 32 págs., R$ 31,90). A escritora mineira aventura-se na literatura infantil ao contar um pedacinho da vida de Carmela, uma menina que narra alguns momentos marcantes de sua infância em uma cidade do interior. A pequena morava com os pais e o irmãozinho mais novo no sítio do Vovô da Horta. O velho João Antônio, um homem simples, pequeno agricultor, que cultivava muito mais do que hortaliças e frutas em suas terras, ele plantava e cuidava da alegria dos netos. O sítio se torna um oásis para as crianças, um lugar especial, quase um pedacinho do céu, com cheiros e cores que saltam das páginas do livro. Do baú do Vovô da Horta saíam as moedas que permitiriam a Carmela tomar guaraná pela primeira vez. O consumo não era como é nos dias de hoje. Os brinquedos eram confeccionados com ferro - casinhas, cadeiras, cavalinhos, tudo feito carinhosamente pelo pai de Carmela. A menina levava uma vida bem simples, sua roupas eram costuradas pela mãe e o uniforme e o material escolar foram presentes do avô. Como não poderia faltar em um livro de Adélia Prado, a poesia surge em versos declamados pela menina e a religião aparece na leitura do missal, na reza do terço e nas orações. Observando atentamente o livro, fica a dúvida: seria uma obra biográfica? "Sim, como toda e qualquer obra, não apenas literária. É impossível escrever a partir do nada. Falamos de nós mesmos quando falamos do mundo ou do outro. A obra é espelho, para mim em primeiro lugar, mas, como apenas memória não faz literatura, espero, então, que minhas lembranças estejam transfiguradas no livro e possam ser também as memórias de qualquer outra criança", diz Adélia. Escrever para crianças foi uma surpresa agradável para a poeta. "Foi uma alegria muito grande, eu não sabia que era capaz", anima-se. "Estou pronta para o próximo livro, meu lápis está apontadinho." As belas recordações da infância somadas às ilustrações de Elizabeth Teixeira comprovam a qualidade do livro. Adélia brinca quando indagada sobre a diferença entre escrever para crianças e adultos. "É a mesma diferença entre um vestido para uma velha senhora e para uma menina, feitas do mesmo pano. Os tamanhos são diferentes, mas o corte e a costura exigem o mesmo cuidado. Estou parecendo o presidente com suas metáforas futebolísticas, mas quero dizer é que tem livro infantil péssimo e ótimo, assim como livros para adultos. Em se tratando de gênero literário o que existe é livro ruim e livro bom."

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