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Acre finaliza ciclo de debates da 27.ª Bienal de São Paulo

Seminário discutiu o território como metáfora de convivência; uma das mais interessantes palestras foi a do indigenista José Carlos Meirelles, da Funai

Por Agencia Estado
Atualização:

O Acre, Estado e território tomado como metáfora para a realização de um núcleo inteiro da 27.ª Bienal de São Paulo, em cartaz até 17 de dezembro, foi tema do seminário diversificado, ocorrido nos dias 10 e 11 de novembro, no auditório do Porão das Artes da Fundação Bienal. Como afirmou a curadora-geral desta edição do evento, Lisette Lagnado, o ciclo de seis seminários realizados desde janeiro sobre questões que nortearam, e que estão presentes na 27.ª Bienal, foi pensado e concretizado para "dar outro patamar de grandeza a uma megaexposição". O público participou desde o início do ano das conferências e uma publicação será lançada posteriormente com relatos e falas dos palestrantes. Mas com a realização do último seminário, Acre, organizado pelo co-curador José Roca, o ciclo de discussões se encerra ficando apenas a mostra no pavilhão. O Estado brasileiro "desconhecido por brasileiros", disse Roca, é um dos pólos do programa de residências artísticas da 27.ª Bienal e tornou-se uma metáfora para se tratar questões como território e novas formas de convivência. Uma das mais interessantes palestras foi a do indigenista José Carlos Meirelles, da Fundação Nacional do Índio (Funai). Simples e certeiro, Meirelles falou com a propriedade de quem vive de perto a questão de convivência com os índios: desde 1988 ele se fixou na cabeceira do Rio Envira, em Feijó, no Acre, para se dedicar ao trabalho. "Dois terços da população indígena está morta. Isso não é Bósnia, é genocídio", bradou. Meirelles defende que etnias isoladas - "não gosto do termo povo isolado, mas autônomo" -, nômades, têm o direito de viver à sua maneira, sem território demarcado. "Se eles quiserem contatar, eles contatam." O historiador francês Thierry de Duve, da Universidade de Lille 3, admirou o ponto colocado por Meirelles. "Lisette, quando você dá como título para a Bienal o Como Viver Junto, é para dizer: Como Viver em Paz Junto, como viver bem no planeta globalizado", afirmou. "Será que a arte encoraja um sentido universal de família??, indagou. Porque logo em suas primeiras palavras, Duve disse que uma Bienal de São Paulo é uma "Bienal de Arte" e que a metáfora do Acre era mais uma maneira de tratar de "esferas privada, política e social". De certa maneira, o historiador indagava qual a presença da estética, da "autonomia da arte" nesta 27.ª Bienal de São Paulo. "Não acredito que a arte resolverá os problemas políticos A luta política é luta política. Arte funciona como base transcendental." Foi o único que foi na questão da arte/estética nesse seminário que contou até com a participação da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Os outros participantes foram por temas e assuntos sem dúvida oportunos, mas como pontos para discussões amplas e para outros ramos: a convivência entre o conhecimento tradicional e o conhecimento científico, pela antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, uma das responsáveis pelo projeto da Universidade da Floresta; o Acre como espaço a ser construído, pelo antropólogo americano David Harvey; e o tema da representação - pela literatura - da "enormidade da Amazônia" desde o século 19, pelo professor da Unicamp, Francisco Foot Hardman. O site do Forum Permanente de Museus disponibilizará os relatos das palestras, assim como a gravação do seminário.

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