Absinto, a bebida lendária chega à cidade

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo já pode se servir da mais lendária das bebidas. Cerca de 1.300 caixas de absinto desembarcaram na cidade importadas de Portugal. Com elas, vieram de carona a mitologia e a história. A primeira em razão dos efeitos e males atribuídos à bebida, a ponto de torná-la proibida em quase todo o mundo há mais ou menos 100 anos. A história do absinto começa em 1792, quando o médico e monarquista francês Pierre Ordinaire, exilado na Suíça, utilizou a planta artemisia absinthum para fabricar uma poção digestiva. Poucos anos depois, ele adicionou 70% de álcool à fórmula para potencializar seus efeitos. O medicamento do doutor Ordinaire tornou-se coqueluche nos cantões suíços e rapidamente atravessou fronteiras. Já carregava nessa época uma forte dose de mitologia. Espalhou-se que suas virtudes iam muito além da cura dos males do estômago, tornando seus usuários mais bem-dispostos para o trabalho. Por causa de seus poderes milagrosos e da sua cor esverdeada, os mais entusiasmados apelidaram-na de Fada Verde. Mas a tacada de marketing mais certeira foi dada por dois compradores da marca, o major Henri Dubied e seu genro Henri Pernod. Isso mesmo, o Pernod da bebida até hoje largamente consumida nos cafés franceses. Os dois passaram a comercializar a bebida como afrodisíaca. A guerra franco-argelina (1844-1847) encarregou-se de tornar o absinto a bebida nacional da França. Foram os soldados, brindados com uma dose diária, quem o trouxeram de volta do front, ajudando a difundi-lo em todo o país. Na segunda metade do século 19, ela se tornou a bebida predileta dos artistas da belle époque descontentes com as promessas não-cumpridas do progresso científico. Os poetas Verlaine e Rimbaud, assim como os pintores Degas e Toulouse-Lautrec, tornaram-se bebedores contumazes e alimentaram a lenda de seus efeitos alucinógenos e propiciadores da criação artística. Todos cumpriam o mesmo ritual: um pouco de água gelada era vertida lentamente sobre uma colher furada colocada sobre um copo, onde era depositado, além da bebida, um torrão de açúcar. Identificado com a esbórnia, o mau costume e o desregramento, o absinto ganhou muitos inimigos e ainda no final do século 19 uma cruzada moral pediu sua proibição. A Suíça, sua terra natal, foi o primeiro país a fazê-lo, quando um camponês assassinou mãe e filha após um porre da bebida. Dez anos mais tarde, o general francês Galiani culpou o absinto pela derrota de seus soldados no campo de batalha e o governo francês seguiu o exemplo da nação vizinha. A proibição chegou aos Estados Unidos e a vários outros países. Por incrível que pareça, Portugal continua a fabricá-lo e, claro, a consumi-lo em larga escala. Entre seus adeptos mais ilustres, contavam Eça de Queiroz e Fernando Pessoa. Além dos lusos, apenas a República Checa produz e consome absinto. Desde o início dos anos 90, ele passou ser encontrado em bares de Nova York e Londres. O Brasil, embora nunca tenha fabricado, também embarcou na legislação e proibiu a comercialização por aqui. Lalo Zanini, dono dos bares Jotaká, Limone e da pizzaria Sprazzo, provou a bebida na casa de amigos e foi a Portugal negociar sua importação. Para atender às leis brasileiras, que proíbem a comercialização de bebidas com teor alcoólico acima de 54º, o maior fabricante português, Neto&Costa, produziu um lote especial de absinto destinado ao Brasil. A bebida que será degustada aqui tem 53,5º de teor alcoólico. Em Portugal, ela é bebida com 57º. As 15,6 mil garrafas de 750 ml trazidas por Zanini foram vendidas em apenas um dia. Outras 45 mil devem chegar até o final do mês. O empresário comemora: ?Ela vai se tornar a coqueluche dos bares brasileiros?. A dose da Fada Verde vai custar R$ 7,50 em média. O absinto tem sabor adocidado e aroma semelhante ao de anis. Jotaká - Av. Juscelino Kubitschek, n.º 201, tel.: 3845-7272 Limone - Rua Oscar Freire, 30, tel.: 3083-0375) Pizzaria Sprazzo - R. Primavera, 284, tel.: 3051-3000

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.