ABL: três eleições em menos de 20 dias

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Por Agencia Estado
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Na tradicional quinta-feira, dia do chá das cinco, a Academia Brasileira de Letras dá início a uma maratona eleitoral. São três eleições em 18 dias, que ajudarão a compor o perfil da instituição no ano 2001. Duas, a de quinta e a do dia 11 de dezembro, são para o preenchimento de vagas - abertas, respectivamente, com as mortes de Barbosa Lima Sobrinho em 16 de julho, e de Afrânio Coutinho, em 5 de agosto. A do dia 7 de dezembro define quem vai ser o presidente da casa na próxima gestão, de um ano. As eleições são sempre momentos em que a instituição acerta seus rumos. Tudo indica que a ABL continuará seu namoro com o público, cujo exemplo mais escandaloso foi a cessão do espaço para o lançamento do novo livro de Paulo Coelho, O Demônio e a Srta. Prym. O evento garantiu páginas e páginas nos jornais, aventando a possibilidade de Coelho ingressar na instituição. Embora duas vagas estivessem abertas, ele não se inscreveu. Mas resumir esse namoro a um factóide, que, por sinal incomodou algumas das figuras mais populares da casa, seria injusto com a ABL. Isso porque, desde a gestão de Nélida PiÏon, em 1997, a academia tem promovido uma série de seminários e exposições, além de visitas guiadas que levaram o público até mais perto dela. A vaga de Barbosa Lima é especialmente cobiçada devido à história do acadêmico. O jornalista nasceu em janeiro de 1897, antes da própria ABL, fundada por Machado de Assis em julho daquele ano. Eleito em 1938, passou 62 anos na instituição, só perdendo em tempo de casa para Carlos Magalhães de Azevedo, que ocupou a cadeira número 9 de 1897 a 1964. Além disso, sua militância política, à frente da Associação Brasileira de Imprensa inclusive, fez dele um homem respeitado por seus maiores adversários. "As eleições para a academia são tradicionalmente concorridas, mas essa cadeira apresentou atrativos adicionais", afirma o presidente da instituição, Tarcísio Padilha. Ninguém na ABL, que na semana passada comemorou os 90 anos de Rachel de Queiroz e a posse do diplomata Alberto da Costa e Silva, esconde que o jurista Raimundo Faoro deve ocupar a vaga de Barbosa Lima, podendo, até, ser eleito com todos os 38 votos. Isso porque seus adversários mais fortes acabaram por retirar suas candidaturas. É o caso do jornalista e escritor Joel Silveira, de 82 anos, que contava com o apoio da cearense Rachel, uma das figuras mais populares entre os acadêmicos. O mesmo se deu com o publicitário Mauro Salles, candidatura que imaginava poder contar com os votos do ex-presidente José Sarney e de Roberto Marinho. Faoro, além de um clássico estudo da sociedade brasileira, Os Donos do Poder, é autor de outro livro citado sempre junto a seu nome: Machado de Assis - A Pirâmide e o Trapézio. Até o presidente da casa, Tarcísio Padilha, não esconde quem deve ser eleito. "Os acadêmicos imaginam que o doutor Faoro será o escolhido." Sobre a possível unanimidade, faz ressalvas: afinal, muitos dos membros da ABL vivem fora do Rio de Janeiro - e nem sempre seus votos, enviados por carta, chegam a tempo para ser abertos. Entre os seis concorrentes de Faoro, está o escritor Virgílio Moretzshon. A questão, agora, no entanto, não é se Faoro será eleito, mas, sim, como.

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