ABL tem disputa entre Marias

A escritora Ana Maria Machado (foto) e a arqueóloga Maria Beltrão são as mais fortes candidatas para ocupar a cadeira nº1, que pertenceu ao jurista Evandro Lins e Silva. Eleição acontece hoje

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Por Agencia Estado
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Tudo indica que a vaga n.º 1 da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupada pelo jurista Evandro Lins e Silva até o fim do ano passado, terá uma mulher chamada Maria como titular. Doze candidatos estão inscritos na eleição que ocorre hoje, com 37 votantes, mas a escritora Ana Maria Machado e a arqueóloga Maria Beltrão são as candidatas mais fortes, com o jurista Fábio Konder Comparato correndo por fora. "Está tão embolado que é capaz de não ter eleito agora", ameaça um acadêmico que sempre pede anonimato, mas nunca errou seus prognósticos. "Se alguém vencer não será por uma diferença maior que três ou quatro votos." Os outros nove candidatos quase não têm poucas chances, por serem nomes pouco conhecidos nacionalmente: Waldemar Cláudio dos Santos, Júlio Romão da Silva, Alexandre de Souza Fernandes, Paulo Hirano, Paschoal Villaboim Filho, Felisbelo da Silva, João Batista do Espírito Santo, Marylena Barreiros Salazar e Ptolomeu Pedro Pinto. O crítico literário e professor universitário Antônio Carlos Secchin, que também concorria, retirou oficialmente sua candidatura há duas semanas. Não seria a primeira eleição a acabar sem imortal, mesmo com quatro escrutínios. Há pouco mais de um ano, na primeira tentativa para preencher a cadeira do economista Roberto Campos, o escritor Paulo Coelho, o diplomata Mário Gibson Barbosa e o cientista político Hélio Jaguaribe não conseguiram a maioria absoluta dos votos (metade mais um). Foi marcado novo pleito, que só ocorreu em julho, quando Coelho venceu Jaguaribe e Gibson não concorreu. "Isso traz prestígio para a Academia", comenta o escritor Marcos Amir Madeira. "Agora, vamos ter de decidir entre a ciência e a arte." As duas candidatas têm comportamentos totalmente opostos, sem ferir o ritual da imortalidade. Ana Maria Machado, ficcionista e ensaísta com mais de cem livros publicados (90% deles dedicados ao público infanto-juvenil), prefere não falar sobre a eleição. "Só faz sentido depois do resultado, porque é um pleito reservado, com poucos votantes", justifica-se. Mas ela cumpriu o ritual e visitou os acadêmicos. Só não conta quem lhe prometeu votos e, por conseqüência, quantos espera ter. Maria Beltrão fala muito para elogiar seus rivais. "Se soubesse que ia enfrentar gente tão forte, nem tinha me candidatado. Tenho dois objetivos na Academia, levar para lá a discussão sobre o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, que precisa de recursos e prestígio à altura de sua produção científica, e esclarecer algumas falácias sobre o brasileiro pré-histórico, que é tão ou mais antigo que em outros países", promete a arqueóloga especialista em paleontologia (estudo de fósseis) humana, que ganhou o apelido de Indiana Jones brasileira por suas descobertas. "Se eu tiver dez votos, sei que em outra oportunidade tenho chance. Não vou desistir da Academia." Posição contrária à do jurista e professor Fábio Konder Comparato, que se inscreveu, mas viajou para o exterior e só tinha a volta marcada para ontem, véspera da eleição. Seus colegas no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) explicam que sua candidatura é uma homenagem póstuma a Evandro Lins e Silva, seu tio e mentor de sua carreira como advogado, professor e jurista. Eles garantem pelo menos quatro votos, insuficientes para a imortalidade, mas suficientes para uma demonstração de afeto. No entanto, não esperam nova candidatura do professor. A nova ou novo imortal precisa ter 19 votos, dos 37 válidos, já que o crítico Alfredo Bosi, eleito no mês passado para a vaga de dom Lucas Moreira Neves, ainda não tomou posse e que a cadeira do escritor mineiro Geraldo França de Lima ainda não foi preenchida. O acadêmico Antônio Olinto acredita que a desistência de Secchin desequilibrou a competição. "Com o Secchin, as preferências estavam pulverizadas. Tudo depende de quantos votos Konder tiver no primeiro escrutínio. Se for bem, pode ser que mais gente vote nele. Se não, vai ficar entre a Ana Maria Machado e a Maria Beltrão", diz ele, sem declarar seu voto. "De todo jeito, a Academia estará bem representada."

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