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ABL: festa baiana na posse de Zélia Gattai

Políticos, intelectuais e artistas lotaram o Petit Trianon para prestigiar a posse da viúva de Jorge Amado, que em seu discurso revelou passagens da vida do escritor

Por Agencia Estado
Atualização:

A não ser pela pontualidade britânica, foi uma autêntica festa baiana. A posse da escritora Zélia Gattai na cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras (ABL) uniu políticos, intelectuais e artistas e lotou o Petit Trianon, que tinha telão para os retardatários acompanharem a cerimônia. Zélia é titular da vaga que foi de seu marido, o escritor Jorge Amado, e a noite da terça-feira homenageou o casal. A sessão começou às 21 horas, terminou às 23 horas e foi seguida de coquetel para 400 pessoas que entrou madrugada adentro, com baianas preparando acarajé na hora. O ex-senador Antônio Carlos Magalhães entrou no Petit Trianon pouco depois das 20h30, com o governador da Bahia, Otto Alencar, e seguido do ator Antônio Pitanga, que veio representando a mulher, a governadora do Estado do Rio, Benedita da Silva. Magalhães é amigo da família há mais de 50 anos e foi o único político citado, num discurso em que Zélia misturou sua biografia com a do marido. A escritora lembrou que Amado, comunista e ex-exilado, era taxativo ao ser interpelado sobre sua amizade com o líder da Bahia: "Somos adversários políticos, mas isso não impede de sermos amigos." Pouco depois de ACM, chegou a atriz Fernanda Montenegro, que acaba de voltar da Itália, onde gravou os primeiros capítulos da novela Esperança, próxima produção da Rede Globo, que substituirá O Clone. Ela veio com o marido, Fernando Torres, e foi breve. "Estou aqui para homenagem a uma amiga de muitos anos, uma personalidade da cultura brasileira", disse Fernanda. A biógrafa e neta de Dorival Caymmi, Stella, representava a família e lembrou a ligação do avô com o casal. "É uma amizade da vida inteira", lembrou Stella. Seguindo o ritual da Casa de Machado, Zélia havia chegado antes das 20 horas e ficou no Salão Francês do Petit Trianon com o filho mais velho, João Jorge, enquanto a família (cunhados, cunhadas, filhos e netos) se espalhava pelo salão nobre. Às 21 horas, trazida pelo escritor Josué Montello (o decano da Academia, pois é o que tem mais tempo de casa, 48 anos) e pelas escritoras Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon, ela entrou no salão e fez seu discurso, recheado de casos engraçados e explicações para passagens amargas. Zélia lembrou que Amado sempre soube que não receberia o Prêmio Nobel de Literatura porque, em 1951, se desentendeu com o acadêmico sueco Arthur Lundkvist, quanto ao Prêmio da Paz, dado à pomba criada pelo pintor espanhol Pablo Picasso. Amado votou em Picasso e o sueco queria o compositor finlandês Jean Sibelius, que lutara contra a União Soviética. Ela explicou também que Amado deixou o Partido Comunista (já proscrito), em 1955, por causa de sua carreira literária e não por discordar de seus princípios. Encerrado o discurso, o acadêmico e presidente da Biblioteca Nacional, Eduardo Portella, saudou a nova imortal, que ficou quase duas horas recebendo os cumprimentos. ACM foi o primeiro a abraçá-la e deixou a Academia logo depois. Agora, a Casa de Machado tem 38 imortais (o historiador Raymundo Faoro ainda não tomou posse) e Zélia votará na eleição do próximo, que vai entrar na vaga do economista Roberto Campos.

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