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A utopia silenciosa da arte na paralela 2010

Mostra das galerias de São Paulo apresenta obras inéditas de seus artistas

Por Camila Molina
Atualização:

Desde 2004, as principais galerias paulistanas se reúnem para fazer uma mostra especial com seus artistas para coincidir com o período da Bienal de São Paulo - tanto que a exposição tem como título Paralela. Na edição que é inaugurada hoje para o público nos galpões do Liceu de Artes e Ofícios, estão reunidas obras (maioria, inéditas) de 82 criadores selecionados pelo curador Paulo Reis. Sob o título A Contemplação do Mundo, a Paralela 2010 dá bastante espaço para a produção jovem (muitos deles, curiosamente, só fazendo pintura) - "no elenco, interessava-me mostrar novos artistas", diz Reis - e ainda abertura para um olhar em que prevalece o silêncio.Paulo Reis, que atualmente é diretor do centro cultural Carpe Diem em Lisboa (Portugal) e co-editor da revista Dardo Magazine, acredita, por sua formação humanista, como diz, que é por meio de arte, de cultura, que "a juventude constroi um novo mundo". Tanto que um de seus pedidos quando convidado a fazer a curadoria da mostra foi de que não houvesse separação entre os galpões do Liceu e as salas de aula dos alunos que frequentam a instituição. A exclusão de fronteira entre a arte e o mundo está, assim, no cerne de seu projeto, que coloca obras já recebendo o público desde o lado externo dos galpões: a pintora Regina Parra instalou no teto da fachada do local letreiro que começa dizendo "Nada de mau se perdeu/nada de bom foi em vão...", citação à obra do cineasta russo Andrei Tarkovski; e Daniel Acosta criou a escultura Estação de Desintoxicação Urbana, um "espaço de convivência", para ser usado pelos visitantes.Poético. De uma forma direta, é o signo da utopia que vai levando toda a exposição. "A arte foi das ciências sociais a menos abalada porque esteve sempre ligada à ética", defende Paulo Reis. A artista Sandra Cinto, que começou há alguns anos a fazer obras relacionadas aos mares e águas com barquinhos de papel, encerra esse ciclo na Paralela com uma impactante instalação que remete à proa de um barco ao ser formada por uma plataforma de toras de madeira, vidros com desenhos em preto, livros e cordas - um convite à deriva. Dialogando com esta obra está uma referência ao processo lento de transformações em A Rocky Mist, de Thiago Rocha Pitta, em que vidros com sal vão se cristalizando aos poucos e formando uma paisagem. É, este, o espaço que fala do sublime.O tom mais rebaixado e poético continua depois nos núcleos seguintes da mostra pelos galpões do Liceu, incluindo ainda outros pontos como a referência à história da arte como base para os artistas; a questão da "economia da forma"; equilíbrio e desequilíbrio; o contraste opulência/decadência - há leveza no conjunto, o que não quer dizer que artistas falam de tantas questões nos interstícios de suas criações, como a obra Menos Uma, de Milton Marques, é direta e singela sobre o armamento ilegal . "Não queria discurso sociológico estreito", afirma Paulo Reis.REALIZADORESCasa TriânguloGabinete Raquel ArnaudGaleria BaróGaleria Fortes VilaçaGaleria LemeGaleria Luciana BritoGaleria Luisa StrinaGaleria Marilia RazukGaleria MillanGaleria Nara RoeslerGaleria Oscar CruzGaleria VermelhoGaleria Virgilio

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